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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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quinta-feira, 31 de maio de 2012

O rei Midas

Imagem Google
Era uma vez um rei muito avarento, que se chamava Midas. Era fabulosamente rico, mas queria ser bem mais rico ainda. Embora não gastasse mais do que o indispensável, estava sempre repreendendo seu tesoureiro pelos gastos feitos. Nunca dá  esmolas e os necessitados saíam de seu palácio desolados. Passava o dia nos cofres, contando suas riquezas e contemplando seu tesouro, encantado:

-Daria tudo para ser o rei mais rico do mundo! Queria ter mais ouro que qualquer outra pessoa! - dizia o rei a todo instante.

Certa manhã, um duende apareceu à sua frente.

Quem é você? -  perguntou, surpreso, o rei Midas.

-Não está vendo? Sou duende!

- Espero que não pretenda ficar muitos dias. Este ano a colheita foi fraca e não podemos gastar muito em comida...

- Pois vou compensar um pouco sua má sorte- disse o duende.

-Peça o que quiser e será concedido no mesmo instante.

O rei estava perplexo, mas achou que poderia conseguir o que havia desejado a vida toda.

-Desejo que tudo aquilo que eu tocar se transforme em ouro!-disse o rei.

- Muito bem, seu desejo será cumprido-disse o duende, desaparecendo em seguida.

Para comprovar a magia do duende, o rei Midas pegou umas moedas de cobre e prata. Assim que tocou nelas, viraram reluzentes moedas de ouro.

-O duende tem razão! Que prodígio!-exclamou o rei, fora de si, com os olhos brilhando de ambição. Tocou numa jarra de porcelana e ela se transformou em ouro. Depois tocou todos os talheres, que eram de prata e se transformaram em ouro na mesma hora. E assim, muito contente e cada vez mais ambicioso, o rei Midas foi tocando em todos os objetos ao seu alcance, transformando-os em ouro.

O soberano já estava cansado de transformar objetos em ouro e, como sentiu fome, pediu que lhe trouxessem comida. Quando lhe trouxeram a comida numa bandeja, quis provar um pedaço  de pão, mas ele virou um duro pedaço de ouro. O rei ficou pensativo. Foi tomar vinho, mas ele também se transformou em ouro.

- Oh! Não posso comer! Disse o rei Midas, com tristeza.

Foi para sua biblioteca ler, mas, ao pegar um livro, ele se transformou num pesado bloco de ouro. Cada vez mais preocupado, o rei tentou acariciar seu gato de estimação e o transformou numa estátua dourada. Quis sentir o perfume de uma linda rosa, mas a transformou em ouro, também.

Inconformado, quis se distrair cavalgando em seu formoso cavalo branco. Mas, assim que tocou no precioso animal, ele se transformou numa estátua de ouro. Então o rei começou a chorar sem parar e, ao escutar seus soluços, sua filha veio consolá-lo. Porém, quando o rei tocou em sua filha, ela também se transformou numa estátua de ouro.

- Maldito ouro! Deixe-me viver em paz! Tudo em que eu toquei transformou-se em ouro, até minha única filha! Ah, duende mágico, tenha compaixão deste pobre rei que, cego pela ambição, tornou-se o mais desgraçado dos mortais!

Então o duende apareceu novamente e, com pena do rei, desfez o encanto e disse:-Rei Midas , quero que isto lhe sirva de lição e compreenda que o dinheiro não traz felicidade e que a ambição desmedida é fonte de tristezas.

O rei deu razão ao duende e, desde então, deixou de ser ambicioso e distribuiu suas riquezas aos necessitados, tornando-se um rei muito querido e respeitado por todo o seu povo.

Manawee

Imagens do Google

Era uma vez um homem que vinha cortejar duas irmãs gêmeas.
 
— Você não poderá se casar com elas a não ser que consiga adivinhar seus nomes — dizia, porém, o pai das moças.
 
Manawee tentava e tentava, mas não conseguia adivinhar os nomes das irmãs. O pai das moças abanava a cabeça e mandava Manawee embora todas as vezes.
 
Um dia Manawee levou seu cachorrinho junto numa visita de adivinhação, e o cachorro percebeu que uma irmã era mais bonita do que a outra e que a outra era mais delicada do que a primeira. Embora nenhuma das duas irmãs possuísse todas as virtudes, o cachorrinho gostou muito delas porque elas lhe deram petiscos e sorriram olhando fundo nos seus olhos.
 
Também naquele dia Manawee não conseguiu adivinhar os nomes das jovens e voltou irritado para casa. O cachorrinho, porém, voltou correndo para a choupana das irmãs. Ali ele enfiou a orelha por baixo de uma das paredes laterais e ouviu as moças dando risinhos e falando sobre como Manawee era bonito e másculo. Enquanto falavam, as irmãs se chamavam mutuamente pelo nome, e o cachorrinho, tendo ouvido, voltou correndo com a maior velocidade possível para seu dono para lhe passar a informação.
 
No caminho, porém, um leão havia deixado um grande osso ainda com carne perto do caminho, e o minúsculo cachorrinho sentiu imediatamente o cheiro, não pensou em mais nada e se desviou mato adentro arrastando o osso. Ali, ele lambeu e mordiscou o osso com grande prazer até que todo o sabor desapareceu. Ah! O pequeno cãozinho de repente se lembrou da tarefa esquecida, mas infelizmente ele também havia esquecido os nomes das moças.
 
Por isso, ele correu de volta à choupana das gêmeas e dessa vez já era de noite e as jovens estavam passando óleo nos braços e pernas uma da outra e se arrumando como se fosse para uma festa. Mais uma vez o cãozinho as ouviu chamando-se mutuamente pelo nome. Ele deu pulos de alegria e estava correndo pelo caminho afora na direção da choupana de Manawee quando do meio do mato veio o aroma de noz-moscada fresca.
 
Ora, não havia nada que o cachorrinho adorasse mais do que noz-moscada. Por isso, ele se desviou um pouco do caminho e correu para o lugar onde uma bela torta de laranjas estava esfriando em cima de uma tora. Bem, logo a torta já não existia mais, e o cachorrinho tinha um adorável hálito de noz-moscada. Enquanto trotava de volta para casa com a pança cheia, tentou pensar nos nomes das moças, mas, mais uma vez, ele os havia esquecido.
 
Finalmente, o cachorrinho tornou a voltar correndo até a choupana das irmãs, e dessa vez as irmãs estavam se preparando para se casar. "Ah, não!" pensou o cachorrinho, "quase não tenho mais tempo." E, quando as irmãs se chamaram pelo nome, ele guardou os nomes na mente e saiu em disparada, com a determinação resoluta e absoluta de que nada iria impedi-lo de transmitir os preciosos nomes a Manawee imediatamente.
 
O cãozinho vislumbrou caça pequena recém-morta no caminho, mas a ignorou e saltou por cima dela. Por um instante, pareceu-lhe sentir o aroma de noz-moscada no ar, mas ele o ignorou e preferiu continuar correndo na direção da sua casa e do seu dono. No entanto, ele não contava com a possibilidade de um estranho de negro saltar do mato, agarrá-lo pelo pescoço e sacudi-lo ao ponto de seu rabo quase cair. Pois, foi o que aconteceu.
 
— Diga-me aqueles nomes! Diga-me os nomes das moças para que eu as possa conquistar — gritava o estranho o tempo todo.
 
O cãozinho achou que ia desmaiar com aquele punho lhe apertando o pescoço, mas lutou com bravura. Ele rosnou, arranhou, esperneou e, afinal, mordeu o estranho entre os dedos. Os dentes do animal picavam como vespas. O estranho berrava como um búfalo-da-índia, mas o cãozinho não o soltava. O estranho correu pelo mato adentro com o cãozinho pendurado numa das mãos.
 
— Solte-me, solte-me, cãozinho, e eu o soltarei — implorou o estranho de negro.
 
— Não me volte por aqui — rosnou entre dentes o cãozinho — ou não verá mais a luz do dia.  — E assim o estranho fugiu pelo mato, gemendo enquanto corria. O cachorrinho prosseguiu meio mancando, meio correndo, pelo caminho até encontrar Manawee.
 
Muito embora seu pelo estivesse sujo de sangue e suas mandíbulas doessem, os nomes das jovens estavam bem nítidos na sua mente, e ele se aproximou de Manawee, claudicante, mas feliz da vida. Manawee lavou os ferimentos do cãozinho, e este lhe contou toda a história assim como o nome das moças. Manawee correu de volta até a aldeia das moças com o cachorrinho nos ombros, e as orelhas do cachorro dançavam ao vento como rabos de cavalos.
 
Quando Manawee chegou até o pai com os nomes das filhas, as gêmeas receberam Manawee completamente vestidas para viajar com ele. Elas haviam estado à sua espera o tempo todo. Foi assim que Manawee conquistou duas das donzelas mais belas da região. E todos os quatro, as irmãs, Manawee e o cãozinho, viveram juntos em paz por muito tempo.
 
“Krik Krak Krout, now this story is out. Krik Krak Krun, now this story is done.”
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Fonte: Mulheres Que Correm Com Os Lobos - Clarissa Pinkola Estés - Editora Rocco. Conto Africano-Americano. 

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Camponês Avarento

Imagens do Google
Um dia Nosso Senhor Jesus Cristo, viajando na Alsácia, foi surpreendido pela noite à entrada de uma aldeia. Procurou uma casa onde pudesse pedir pousada, mas as portas todas estavam fechadas, não se via nem um raio de luz através das janelas.

Tudo estava adormecido. Apenas no fim de um beco se ouvia o barulho de um mangual com que se bate o trigo, e nesse sítio havia uma pequenina luz. Nosso Senhor dirigiu-se para lá, chegou rente ao muro de uma quinta e bateu à porta. Logo depois veio um camponês atender. Nosso Senhor lhe disse:

— Faz-me um favor de me dar agasalho por esta noite? Não se há de arrepender.

Depois de entrar, perguntou:

— Todos estão deitados, e por que o senhor ainda está trabalhando?

— Soube ontem à noite que ia ser perseguido por um credor sem entranhas. Ele prometeu matar-me, se não lhe pagasse amanhã o que devo. Portanto, eu e meus filhos estamos batendo o pouco trigo que colhi, para vender no mercado e pagar a minha dívida. Depois não nos fica nada, e não sei como havemos de atravessar o inverno. Seja o que Deus quiser!

 Ao dizer isto, o camponês limpava o suor da testa e passava a mão pelos olhos arrasados de lágrimas. O Senhor teve pena dele, e disse-lhe:

— Não desanimes. Quando te pedi hospitalidade, disse que não te havias de arrepender. Vou provar-te.

Pegou na candeia, que estava suspensa de uma das traves do celeiro, e aproximou-a do trigo.

— Que vai fazer? — perguntaram assustados os trabalhadores.

— Vai pôr fogo a tudo?

Mas no mesmo instante, da palha que eles receavam ver inflamar-se, de cada espiga desceu uma chuva de grãos prodigiosa. À vista de tal milagre, os camponeses maravilhados caíram de joelhos.

— Visto que foste caridoso — disse Jesus — visto que recebeste na tua pobreza o forasteiro que veio ter contigo como um pobre mendigo, serás recompensado. Foi Deus que entrou na tua fazenda, é Deus que te enriquece.

Dito isto, desapareceu. E a chuva de grãos não parou durante toda a noite, e fez um monte tão alto como uma catedral. O camponês pagou as suas dívidas, comprou terras e construiu uma bela casa.

Era rico, e esquecendo-se de Nosso Senhor, tornou-se altivo com os pobres, orgulhoso. Ele e seus filhos adquiriram costumes perdulários. Tanto e tanto fizeram, que se arruinaram. E como tinham sido maus nos tempos em que eram ricos, ninguém os ajudou na sua miséria.

Uma noite o velho camponês, que bebera muito, entrou no celeiro, e recordando-se do milagre que o enriquecera, imaginou que também ele o poderia fazer. Agarrou na candeia, aproximou-a de um feixe de palha e comunicou-lhe o fogo.

Ardeu a casa e tudo o que lhe restava. Depois de algum tempo, morreu na miséria mais absoluta.

Fonte: Guerra Junqueiro, "Contos para a infância" - Lello & Irmão, Porto, 1953. Parábola.



A mulher dengosa

Imagem do Google

Era uma vez um homem que se casou com uma mulher muito cheia de dengues. Fingia não ter apetite. Quando se sentava à mesa era para tocar apenas nos pratos. Comia três grãos de arroz e já cruzava o talher, como se tivesse comido um boi inteiro.

 O marido desconfiou de tanta falta de apetite, porque apesar daquele eterno jejum ela estava bem gordinha. E imaginou uma peça.

- Mulher - disse ele - tenho de fazer uma viagem de muitos dias. Adeus.

 E partiu com a mala às costas - mas deu jeito de voltar sem ser percebido e de esconder-se na cozinha atrás do pilão.

Logo que se viu só em casa, a mulher dos dengues suspirou de alívio e correu à cozinha.

- Joaquina - disse à cozinheira - prepare-me depressa uma sopa bem grossa, que quero almoçar.

A negra preparou uma panelada de sopa, que a dengosa engoliu até o finzinho.

Logo disse à cozinheira:

- Joaquina, mate um frango e prepare-me um ensopado para o jantar.

A negra preparou o ensopado, que ela comeu sem deixar uma isca.

- Agora, Joaquina, prepare-me beijus bem fininhos para eu merendar.

E merendou os beijus , sem deixar um farelo.

-E agora, Joaquina, prepare-me um prato de mandioca bem enxuta para eu cear.

A negra preparou  a mandioca, que a dengosa comeu até não poder mais.

O marido então escapou do esconderijo e foi bater na porta da rua, fingindo estar chegando da viagem. Era um dia de chuva bem forte.

Quando a mulher abriu e deu com o homem, ficou desapontada. Ele explicou que havia desistido da tal viagem e voltado.

- Maridinho, como você voltou tão enxuto, debaixo duma chuva tão grossa?

O marido respondeu:

_ Se a chuva fosse tão grossa como a sopa que você almoçou, eu viria tão ensopado como o frango que você jantou; mas como era uma chuva fina como os beijus que você merendou, eu cheguei tão enxuto como a mandioca que você ceou.

A dengosa ficou admiradíssima daquelas palavras e desapontadíssima ao compreender que o esposo tinha descoberto sua manha. E acabou com os dengues.

 Fonte: Monteiro Lobato em Histórias de Tia Anastácia

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A sabedoria de Salomão


Navegando num magnífico navio, a Rainha de Sabá estava a caminho da Terra de Israel, em visita ao Rei Salomão – o mais sábio de todos os homens.
e repente, ela prendeu a respiração, pois uma visão de insuperável esplendor atraiu seu olhar. Ao longe, viu uma estrela deslumbrante surgindo das espumas do mar. À medida que se aproximava, a estrela emergente parecia ir se transformando numa linda flor, faiscando com o brilho de muitos matizes e cores. Exclamou a Rainha de Sabá:
- Não pode ser outro senão o famoso Palácio de Cristal. Ansiava por ver esta deslumbrante obra. Apressem-se! - ordenou, impaciente, aos remadores.
Finalmente o navio ancorou junto à praia de uma pequena ilha. Lá a Rainha de Sabá e seu séquito foram saudados por uma hoste de arautos e oficiais, que se postavam dos dois lados da alameda que levava ao palácio. Entre eles destacava-se um homem cujas vestes reais, porte e maneira, superavam todos os outros em beleza e nobreza.
"Ora veja, descobri o Rei Salomão," pensou ela, enquanto se ajoelhava graciosamente diante do nobre varão.
- Por que ajoelha, Ó Rainha? - perguntou ele.
- Pois não és tu o grande Rei Salomão?
- Não, Majestade; sou apenas um de seus oficiais, aqui enviado para dar-lhe as boas-vindas às nossas pacíficas praias. E agora, por favor, suba na carruagem real, minha Rainha, e eu a levarei ao Rei.
"Oh," pensou a Rainha de Sabá, "se um simples servo de Salomão é tão nobre assim, o rei deve ser verdadeiramente divino!"
As portas da sala do trono foram escancaradas. Na soleira, permaneceu petrificada a Rainha de Sabá, totalmente maravilhada! Estava num palácio feito do mais puro cristal. A luz do sol se infiltrava nas transparentes paredes que a difundiam em mil brilhantes matizes. Cada jóia na coroa, no trono e no cetro reais atraía a luz como um imã e a refletia em empolgante esplendor. Ao longe, podia-se vislumbrar o mar azul que, através das paredes translúcidas, dava a impressão de que o palácio estava construído sobre as suas ondas.
Finalmente a Rainha de Sabá encontrou palavras para expressar a sua admiração:
- Se eu não estivesse neste salão contigo, pensaria que teu trono se erguia sobre as próprias águas do mar.
Então ela avançou lentamente através da grande sala real para receber a saudação e a bênção do Rei Salomão. Após a troca de cumprimentos, a Rainha tomou assento num lugar de honra junto ao trono e dirigiu as seguintes palavras ao Rei:
- Tu granjeaste amplo renome por tua sabedoria. Deixa que te proponha algumas adivinhações para ver se de fato és tão sábio como todo mundo afirma.

- Podes perguntar, minha Rainha. - disse o Rei Salomão.
A Rainha de Sabá colocou o primeiro enigma:

"Dize-me, sábio Rei Salomão,
Que águas são essas, que não
Nascem da pedra, chão ou monte.
E embora venham da mesma fonte,
Ora amargas, ora doces são?"

O Rei Salomão ficou pensativo por um momento e então respondeu:
"As lágrimas não vêm do chão,
E é doce o pranto da emoção,
Feliz. Amargo é o pranto,
Da dor, tristeza e desencanto."

A rainha sorriu diante da rápida resposta e logo lhe propôs outro:
"A minha mãe me deu um dia
Presentes dois – que alegria!
Um veio do alto mar infindo,
Guardado num estojo lindo.
O outro veio das entranhas
Escuras, fundas, das montanhas."

A resposta de Salomão veio quase sem qualquer hesitação:
"Finas pérolas, brilho irisado,
Ricos anéis, ouro lavrado.
Beleza pura e poder do ouro.
Rainha, adivinhei o teu tesouro?"

A pergunta era desnecessária, já que o Rei Salomão sabia que havia acertado a resposta ao enigma. A Rainha de Sabá concordou sorridente e apresentou o terceiro:
"Rei, muito sábio, tu podes dizer:
Quem, sepultado vivo, no fundo
Da terra, longe do sol e do mundo
Morre – e no entanto, torna a viver?"

A sabedoria de Salomão não falhou também desta vez, quando respondeu:
"A sementinha sepulta no chão
Faz nascer a espiga, o dourado grão.
E aquele que ali a enterrou
Colheu boa safra e se regalou."

A Rainha de Sabá prosseguiu:
"O que é que gira alegre no ar:
Caindo do céu no chão, sua pureza
Se vai e morre toda a beleza?"

O Rei Salomão respondeu:
"A neve, caindo do céu distante,
Desce à terra, leve e dançante.
O homem pisa na sua brancura,
E acaba com a sua beleza pura."

A Rainha de Sabá não resistiu à vontade de fazer mais uma pergunta:
"Dize-me, Rei e responde-me logo:
Dádiva da natureza ao fogo,
Que rios ocultos sob terra e monte,
O homem bendiz; e bendiz sua fonte?"

O Rei então respondeu:
"Dum solo da mais rica natureza,
Brota, faiscante, da profundeza,
Óleo precioso, que então alimenta
O fogo que ao mundo ilumina e esquenta."

A Rainha de Sabá estava maravilhada com a sabedoria do Rei Salomão e as suas perspicazes respostas. Pensou bastante numa maneira de espantá-lo e finalmente disse aos seus servidores:
- Vamos pegar os meninos e meninas que trouxe comigo e os vestiremos com roupas exatamente iguais. Então veremos se o Rei será capaz de distingui-los uns dos outros.
Dito e feito. A Rainha trouxe um grande grupo de crianças diante do Rei Salomão. Estavam todas vestidas exatamente iguais. Era impossível distinguir os meninos das meninas só pelo olhar. O Rei Salomão deveria inventar uma maneira de separá-los.
Examinou pensativo as crianças paradas à sua frente. Súbito, chamou seus servos e mandou que trouxessem baldes com água e os colocassem diante de cada criança.
- Agora, queridas crianças, só o que precisam fazer é lavar suas mãos com a água que mandei colocar à sua frente.
Mas o Rei Salomão avisara seus servos para não fornecer toalhas a elas.
O Rei observava as crianças enquanto cumpriam sua ordem. Quando terminaram de lavar as mãos, olharam em volta mas não viram as toalhas. Algumas crianças começaram a secar as mãos nos seus aventais.
O Rei Salomão pensou: "Essas são meninas, porque elas estão acostumadas a enxugar as mãos nos aventais; mas os outros, parados sem jeito, com a água pingando das mãos, certamente são os meninos!"
Então o Rei mandou todos os meninos ficarem de um lado do seu trono, e as meninas do outro lado e disse à Rainha de Sabá:
- Aqui à minha direita estão os meninos e à esquerda, as meninas.
A Rainha de Sabá não podia conter sua admiração pela sabedoria do Rei Salomão. Dirigindo-se aos seus astrólogos e conselheiros, exclamou:
- Estou tão feliz de ter feito esta longa viagem para ver o Rei Salomão, pois ele é na verdade o mais sábio de todos os homens!
E então a Rainha de Sabá desceu de sua cadeira e curvou-se ajoelhada diante do trono do Rei.
- Tu és abençoado por Deus, pois nenhum mortal jamais andou sobre a terra com tal sabedoria como a tua. - disse a Rainha reverentemente.
Disse o Rei:
- Levanta-te, minha Rainha.Vamos à recepção que preparei em tua honra.
No suntuoso salão de banquetes estavam reunidos os ministros de Estado e os homens sábios do Sanhedrin que o Rei havia convidado para o festim.
Quando a rainha de Sabá entrou, viu o magnífico salão de refeições, as mesas faiscando de ouro e prata, carregadas de finos manjares, as vestes suntuosas que envergavam o Rei, seus cortesãos e os nobres e viu também os veneráveis semblantes de todos os presentes. Ficou cheia de espanto e admiração pelo esplendor da corte do Rei Salomão. Nos seus sonhos mais arrojados ela não imaginara nem metade do esplendor e da sabedoria que veio a conhecer.
- Bendito seja o Deus de Israel! - exclamou a Rainha de Sabá.
Parábola judaíca
Imagens Google

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