Há muito tempo atrás um velhinho morava com sua esposa perto de uma floresta. Na juventude ele fora um belo rapaz, mas à medida que envelhecia, uma feia verruga cresceu-lhe na face, ficando, com a idade, cada vez maior. Durante anos, recorreu a médicos e magos e experimentou pós e poções, mas nada adiantou. Por fim resignou-se com a verruga e tentava mesmo brincar a respeito. Um dia, o velho precisou de lenha para o fogo; foi então para as
montanhas e cortou algumas achas. Fazia um dia fresco de outono e ele
se sentia tão feliz que nem viu as nuvens se adensarem. Quando caíram
as primeiras gotas, correu a procurar abrigo. Encontrou uma árvore oca
e lá se escondeu, no exacto momento em que irrompeu a tempestade.Trovões sacudiam as montanhas e raios cintilavam ao seu redor; ele, porém, estava seco e seguro. Depois de muitas horas, a tempestade amainou e o velho saiu de seu refúgio. Ouviu vozes à distância e
pensou que seus vizinhos tinham vindo à sua procura. Mas quando viu do que se tratava, pasmou horrorizado - uma horda de gnomos e demônios se aproximava! Mais que depressa, volou para seu esconderijo na árvore, tremendo de medo. Os demônios chegaram e um dos gnomos - o mais horrendo de todos e obviamente o chefe - dirigiu-se ao seu bando, dizendo com um gesto: - Vamos dar uma festa aqui. Então o rei-demônio acomodou-se de costas para o velho, na frente da árvore oca. O pobre homem quase desmaiou de medo. Os demónios organizaram rapidamente um piquenique e começaram a cantar. O velho observava atónito - nunca vira nada semelhante. Mas quando os demónios começaram a dançar, não pôde conter o riso. Eram
desajeitados e deselegantes, e todos pareciam ridículos, dando coices para todo lado e caindo. Finalmente, o rei dos demónios com um gesto ordenou aos dançarinos que parassem. - Vocês são ruins demais! - disse, se lastimando. - Não existe ninguém aqui que saiba dançar bem? Ora, o velho adorava dançar e sabia dançar muito bem. - Eu poderia ensinar-lhe uns passos - pensou consigo mesmo, mas não ousava revelar sua presença, temendo que os demónios o matassem. O rei-demónio tornou a perguntar se alguém sabia dançar e o velho continuava dividido entre
seu amor pela dança e seu medo dos demónios. O rei-demónio perguntou uma terceira vez e o velho mandou seus receios às favas. Saiu da árvore e curvou-se perante o chefe dos demónios.
- Eu sei dançar, meu senhor - disse e começou a fazê-lo. Os demónios ficaram escandalizados por terem um homem em seu meio, mas, bem logo, admiraram a arte do velho. Começaram a marcar o ritmo com seus cascos, acompanhando a música e alguns se juntaram ao velho.
Por sua vez, o velho sabia que sua vida dependia de ele dançar bem, de forma que pôs toda sua alma e todo seu coração em seus movimentos e divertiu-se, realmente. Quando parou, o rei-demónio aplaudiu e convidou-o a sentar-se ao seu lado, oferecendo-lhe um copo de vinho.
- Você precisa voltar amanhã para dançar para nós - o rei-demónio disse. - Gostaria muito de vir - respondeu o velho. Um dos conselheiros do rei admoestou-o. - Não se ode confiar nos
homens. Precisamos ficar com algo que nos dê certeza de que ele vai voltar. - Infelizmente, o velho nada trazia de valor consigo. - Bem, então - o rei-demónio disse - vou ficar com isto como penhor - e, estedendo a mão, agarrou a verruga do velho e arrancou-a com a facilidade de quem arranca um pessêgo maduro. - Trate de voltar amanhã - ordenou, e todos os gnomos desapareceram. O velho mal podia acreditar no que acontecera. Passou a mão pelo rosto e percebeu o quão suave - e simétrico! - estava. Ficou tão feliz, que
foi para casa pulando, cantando - e dançando - durante todo o trajecto. A esposa, ao vê-lo livre da verruga, mostrou-se eufórica e ambos celebravam sua boa sorte. Ora, o velho tinha um vizinho malvado e vaidoso que também tinha uma verruga e que nunca se cansara de procurar um tratamento para ela. Quando soube da celebração, foi espiar e ficou perplexo ao ver que a
verruga do velho havia sumido. este homem invejosos imediatamente perguntou o que acontecera e o velho lhe contou a história dos demónios. O vizinho, então, insistiu para ir vê-los, no dia seguinte, em lugar do velho. No dia seguinte, pois, o vizinho vaidoso rumou para as montanhas e encontrou a árvore oca, exactamente como o velho lhe dissera. E, sem sombra de dúvida, ao anoitecer, o bando de demónios apareceu. - Onde está o velho que ia dançar para nós? - o rei-demônio perguntou. O mau vizinho rastejou para fora da árvore, tremendo de pavor. - Aqui estou! - disse e começou a dançar. Ele, no entanto, nunca havia aprendido a dançar; considerava a dança aviltante à sua dignidade de forma que apenas pulava de um lado para outro, agitando os braços. Ele achava que os demónios não iriam notar a diferença, porém o rei ficou ofendido. - Mas que coisa horrível! - o rei-gnomo exclamou. - Você não está dançando como ontem! - O rei não atinara que estava tratando com outra pessoa porque, a seu ver, todos os humanos eram iguais. - Não dá para aguentar! - o rei-demónio gritou, afinal. Vasculhou o bolo e encontrou a verruga. - Olhe, devolvo-lhe o penhor. Dizendo isso, atirou a verruga no homem vaidoso e esta grudou-lhe no rosto e não havia dúvida: tinha duas verrugas, uma em cada face!
Esgueirou-se para dentro de casa bem mais tarde da noite, e ninguém viu sua cara nunca mais porque, desse dia em diante, passou a usar um chapéu de abas largas, bem enfiado na cabeça.
Quanto ao velho que perdeu sua verruga, ele viveu ainda muito tempo e dançava quando se sentia feliz. O que, na verdade, acontecia quase sempre!
Lenda do Japão
Retirado do Blog
http://contosencantar.blogspot.com/
montanhas e cortou algumas achas. Fazia um dia fresco de outono e ele
se sentia tão feliz que nem viu as nuvens se adensarem. Quando caíram
as primeiras gotas, correu a procurar abrigo. Encontrou uma árvore oca
e lá se escondeu, no exacto momento em que irrompeu a tempestade.Trovões sacudiam as montanhas e raios cintilavam ao seu redor; ele, porém, estava seco e seguro. Depois de muitas horas, a tempestade amainou e o velho saiu de seu refúgio. Ouviu vozes à distância e
pensou que seus vizinhos tinham vindo à sua procura. Mas quando viu do que se tratava, pasmou horrorizado - uma horda de gnomos e demônios se aproximava! Mais que depressa, volou para seu esconderijo na árvore, tremendo de medo. Os demônios chegaram e um dos gnomos - o mais horrendo de todos e obviamente o chefe - dirigiu-se ao seu bando, dizendo com um gesto: - Vamos dar uma festa aqui. Então o rei-demônio acomodou-se de costas para o velho, na frente da árvore oca. O pobre homem quase desmaiou de medo. Os demónios organizaram rapidamente um piquenique e começaram a cantar. O velho observava atónito - nunca vira nada semelhante. Mas quando os demónios começaram a dançar, não pôde conter o riso. Eram
desajeitados e deselegantes, e todos pareciam ridículos, dando coices para todo lado e caindo. Finalmente, o rei dos demónios com um gesto ordenou aos dançarinos que parassem. - Vocês são ruins demais! - disse, se lastimando. - Não existe ninguém aqui que saiba dançar bem? Ora, o velho adorava dançar e sabia dançar muito bem. - Eu poderia ensinar-lhe uns passos - pensou consigo mesmo, mas não ousava revelar sua presença, temendo que os demónios o matassem. O rei-demónio tornou a perguntar se alguém sabia dançar e o velho continuava dividido entre
seu amor pela dança e seu medo dos demónios. O rei-demónio perguntou uma terceira vez e o velho mandou seus receios às favas. Saiu da árvore e curvou-se perante o chefe dos demónios.
- Eu sei dançar, meu senhor - disse e começou a fazê-lo. Os demónios ficaram escandalizados por terem um homem em seu meio, mas, bem logo, admiraram a arte do velho. Começaram a marcar o ritmo com seus cascos, acompanhando a música e alguns se juntaram ao velho.
Por sua vez, o velho sabia que sua vida dependia de ele dançar bem, de forma que pôs toda sua alma e todo seu coração em seus movimentos e divertiu-se, realmente. Quando parou, o rei-demónio aplaudiu e convidou-o a sentar-se ao seu lado, oferecendo-lhe um copo de vinho.
- Você precisa voltar amanhã para dançar para nós - o rei-demónio disse. - Gostaria muito de vir - respondeu o velho. Um dos conselheiros do rei admoestou-o. - Não se ode confiar nos
homens. Precisamos ficar com algo que nos dê certeza de que ele vai voltar. - Infelizmente, o velho nada trazia de valor consigo. - Bem, então - o rei-demónio disse - vou ficar com isto como penhor - e, estedendo a mão, agarrou a verruga do velho e arrancou-a com a facilidade de quem arranca um pessêgo maduro. - Trate de voltar amanhã - ordenou, e todos os gnomos desapareceram. O velho mal podia acreditar no que acontecera. Passou a mão pelo rosto e percebeu o quão suave - e simétrico! - estava. Ficou tão feliz, que
foi para casa pulando, cantando - e dançando - durante todo o trajecto. A esposa, ao vê-lo livre da verruga, mostrou-se eufórica e ambos celebravam sua boa sorte. Ora, o velho tinha um vizinho malvado e vaidoso que também tinha uma verruga e que nunca se cansara de procurar um tratamento para ela. Quando soube da celebração, foi espiar e ficou perplexo ao ver que a
verruga do velho havia sumido. este homem invejosos imediatamente perguntou o que acontecera e o velho lhe contou a história dos demónios. O vizinho, então, insistiu para ir vê-los, no dia seguinte, em lugar do velho. No dia seguinte, pois, o vizinho vaidoso rumou para as montanhas e encontrou a árvore oca, exactamente como o velho lhe dissera. E, sem sombra de dúvida, ao anoitecer, o bando de demónios apareceu. - Onde está o velho que ia dançar para nós? - o rei-demônio perguntou. O mau vizinho rastejou para fora da árvore, tremendo de pavor. - Aqui estou! - disse e começou a dançar. Ele, no entanto, nunca havia aprendido a dançar; considerava a dança aviltante à sua dignidade de forma que apenas pulava de um lado para outro, agitando os braços. Ele achava que os demónios não iriam notar a diferença, porém o rei ficou ofendido. - Mas que coisa horrível! - o rei-gnomo exclamou. - Você não está dançando como ontem! - O rei não atinara que estava tratando com outra pessoa porque, a seu ver, todos os humanos eram iguais. - Não dá para aguentar! - o rei-demónio gritou, afinal. Vasculhou o bolo e encontrou a verruga. - Olhe, devolvo-lhe o penhor. Dizendo isso, atirou a verruga no homem vaidoso e esta grudou-lhe no rosto e não havia dúvida: tinha duas verrugas, uma em cada face!
Esgueirou-se para dentro de casa bem mais tarde da noite, e ninguém viu sua cara nunca mais porque, desse dia em diante, passou a usar um chapéu de abas largas, bem enfiado na cabeça.
Quanto ao velho que perdeu sua verruga, ele viveu ainda muito tempo e dançava quando se sentia feliz. O que, na verdade, acontecia quase sempre!
Lenda do Japão
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Resumo Esse artigo tem como objetivo mostrar a importância do arquétipo da criança divina a partir das noções básicas de psicologia analítica de C.G.Jung, e encontrando na arteterapia um meio facilitador da conexão com esse arquétipo. Liga Diniz “... Sem a criança, não existiria deus-pai nem deus-mãe. Sem o filho, obviamente, não existiria o ser humano. Por isso, porque o gênero humano significa existência, vida, e essa vida se inicia bem pequena, com mãozinhas e pezinhos minúsculos, e porque essa vida estabelece a união com Deus, e Deus criou a vida - à sua imagem, por isso a criança é divina.” Angela Waiblinger O Arquétipo da Criança Divina
C.G.Jung, psiquiatra Suíço, criador da psicologia analítica, considerava a existência de três níveis da psique humana: a consciência, o inconsciente pessoal, o inconsciente coletivo.
A consciência aglomera pensamentos, palavras, lembranças, identidade, sensações, gestos, sentimentos, imagens, fantasias... Refere-se ao estar desperto e atento, observando e registrando tudo o que acontece no mundo que nos rodeia e dentro de nós..Tem como função primordial situar o sujeito no tempo e no espaço, realizando todas as orientações e adaptações necessárias para possibilitar a relação que se estabelece na troca do sujeito com o meio físico e humano. Para que qualquer conteúdo psíquico torne-se consciente terá necessariamente de relacionar-se com o ego, que é o centro da consciência. Inconsciente pessoal corresponde a “... uma camada mais ou menos superficial” (Jung, OC V.XVIII/2, 1159) de conteúdos, cujo marco divisório com o consciente não é tão rígido. Contém todos os conteúdos esquecidos ou reprimidos pelo indivíduo, deliberada ou involuntariamente. Estes se referem às experiências vividas, ligadas às disposições internas do indivíduo. Encontram-se também no inconsciente pessoal as percepções e impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente. Nele encontram-se os complexos “grupos de representações carregados de
forte potencial afetivo, incompatíveis com a atitude consciente” (Jung, Vida e Obra; Nise Silveira – pág.73) Inconsciente coletivo seria a camada mais profunda da psique constituída pelos materiais que foram herdados da humanidade. No Inconsciente Coletivo encontram-se os arquétipos, formas estruturantes herdadas que é comum a todo ser humano embora se manifestem de maneira diferente de acordo com as culturas. Como exemplos de arquétipos são:
o Herói, a Grande Mãe, do Pai, da Criança Divina, do Órfão, dos Irmãos Inimigos, entre tantos outros. O arquétipo da criança divina diz respeito a nossa criatividade, espontaneidade, essência, é o futuro em potencial. ”Um aspecto fundamental do motivo da criança é o seu caráter de futuro.” (Jung, OC V. IX/I, 278) “... a “ criança” é dotada de um poder superior e que se impõe
inesperadamente, apesar de todos os perigos.A “ criança” nasce do útero do inconsciente,gerada no fundamento da natureza viva. É uma personificação de forças vitais, que vão além do alcance limitado da nossa consciência, dos nossos caminhos e possibilidades,desconhecidos pela consciência e sua unilateralidade, e uma inteireza que abrange as profundidades da natureza. Ela representa o mais forte e inelutável impulso do ser, isto é, o impulso de realizar-se a si mesmo”. (Jung, OC V. IX/I 289) RESGATANDO A CRIANÇA INTERIOR "Fui convidada para dar uma palestra e workshop numa universidade com a finalidade de falar sobre a criança interior e a importância de ativar a criatividade e espontaneidade no individuo e na sociedade. A nossa saúde e a nossa criatividade esta relacionada com a forma com que lidamos com a nossa criança, não só a criança concreta, como a criança interior. criança é criativa. Resgatar a criança é resgatar o núcleo de saúde do indivíduo, e esse resgate de saúde do indivíduo tem repercussão na
coletividade. Utilizei-me então do conto “O velho que perdeu a verruga” como instrumento de trabalho para ilustrar esse assunto, pois este retrata esse resgate da criança interior. "
Ligia Diniz
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirRecoloquei o comentário, meu teclado está comendo o 'e'. Eu dizia: que acervo de histórias fantásticas! Vim, atendendo seu pedido, aproveito para parabeniza-la. Um lindo natal! Grande abraço!
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