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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Manawee

Imagens do Google

Era uma vez um homem que vinha cortejar duas irmãs gêmeas.
 
— Você não poderá se casar com elas a não ser que consiga adivinhar seus nomes — dizia, porém, o pai das moças.
 
Manawee tentava e tentava, mas não conseguia adivinhar os nomes das irmãs. O pai das moças abanava a cabeça e mandava Manawee embora todas as vezes.
 
Um dia Manawee levou seu cachorrinho junto numa visita de adivinhação, e o cachorro percebeu que uma irmã era mais bonita do que a outra e que a outra era mais delicada do que a primeira. Embora nenhuma das duas irmãs possuísse todas as virtudes, o cachorrinho gostou muito delas porque elas lhe deram petiscos e sorriram olhando fundo nos seus olhos.
 
Também naquele dia Manawee não conseguiu adivinhar os nomes das jovens e voltou irritado para casa. O cachorrinho, porém, voltou correndo para a choupana das irmãs. Ali ele enfiou a orelha por baixo de uma das paredes laterais e ouviu as moças dando risinhos e falando sobre como Manawee era bonito e másculo. Enquanto falavam, as irmãs se chamavam mutuamente pelo nome, e o cachorrinho, tendo ouvido, voltou correndo com a maior velocidade possível para seu dono para lhe passar a informação.
 
No caminho, porém, um leão havia deixado um grande osso ainda com carne perto do caminho, e o minúsculo cachorrinho sentiu imediatamente o cheiro, não pensou em mais nada e se desviou mato adentro arrastando o osso. Ali, ele lambeu e mordiscou o osso com grande prazer até que todo o sabor desapareceu. Ah! O pequeno cãozinho de repente se lembrou da tarefa esquecida, mas infelizmente ele também havia esquecido os nomes das moças.
 
Por isso, ele correu de volta à choupana das gêmeas e dessa vez já era de noite e as jovens estavam passando óleo nos braços e pernas uma da outra e se arrumando como se fosse para uma festa. Mais uma vez o cãozinho as ouviu chamando-se mutuamente pelo nome. Ele deu pulos de alegria e estava correndo pelo caminho afora na direção da choupana de Manawee quando do meio do mato veio o aroma de noz-moscada fresca.
 
Ora, não havia nada que o cachorrinho adorasse mais do que noz-moscada. Por isso, ele se desviou um pouco do caminho e correu para o lugar onde uma bela torta de laranjas estava esfriando em cima de uma tora. Bem, logo a torta já não existia mais, e o cachorrinho tinha um adorável hálito de noz-moscada. Enquanto trotava de volta para casa com a pança cheia, tentou pensar nos nomes das moças, mas, mais uma vez, ele os havia esquecido.
 
Finalmente, o cachorrinho tornou a voltar correndo até a choupana das irmãs, e dessa vez as irmãs estavam se preparando para se casar. "Ah, não!" pensou o cachorrinho, "quase não tenho mais tempo." E, quando as irmãs se chamaram pelo nome, ele guardou os nomes na mente e saiu em disparada, com a determinação resoluta e absoluta de que nada iria impedi-lo de transmitir os preciosos nomes a Manawee imediatamente.
 
O cãozinho vislumbrou caça pequena recém-morta no caminho, mas a ignorou e saltou por cima dela. Por um instante, pareceu-lhe sentir o aroma de noz-moscada no ar, mas ele o ignorou e preferiu continuar correndo na direção da sua casa e do seu dono. No entanto, ele não contava com a possibilidade de um estranho de negro saltar do mato, agarrá-lo pelo pescoço e sacudi-lo ao ponto de seu rabo quase cair. Pois, foi o que aconteceu.
 
— Diga-me aqueles nomes! Diga-me os nomes das moças para que eu as possa conquistar — gritava o estranho o tempo todo.
 
O cãozinho achou que ia desmaiar com aquele punho lhe apertando o pescoço, mas lutou com bravura. Ele rosnou, arranhou, esperneou e, afinal, mordeu o estranho entre os dedos. Os dentes do animal picavam como vespas. O estranho berrava como um búfalo-da-índia, mas o cãozinho não o soltava. O estranho correu pelo mato adentro com o cãozinho pendurado numa das mãos.
 
— Solte-me, solte-me, cãozinho, e eu o soltarei — implorou o estranho de negro.
 
— Não me volte por aqui — rosnou entre dentes o cãozinho — ou não verá mais a luz do dia.  — E assim o estranho fugiu pelo mato, gemendo enquanto corria. O cachorrinho prosseguiu meio mancando, meio correndo, pelo caminho até encontrar Manawee.
 
Muito embora seu pelo estivesse sujo de sangue e suas mandíbulas doessem, os nomes das jovens estavam bem nítidos na sua mente, e ele se aproximou de Manawee, claudicante, mas feliz da vida. Manawee lavou os ferimentos do cãozinho, e este lhe contou toda a história assim como o nome das moças. Manawee correu de volta até a aldeia das moças com o cachorrinho nos ombros, e as orelhas do cachorro dançavam ao vento como rabos de cavalos.
 
Quando Manawee chegou até o pai com os nomes das filhas, as gêmeas receberam Manawee completamente vestidas para viajar com ele. Elas haviam estado à sua espera o tempo todo. Foi assim que Manawee conquistou duas das donzelas mais belas da região. E todos os quatro, as irmãs, Manawee e o cãozinho, viveram juntos em paz por muito tempo.
 
“Krik Krak Krout, now this story is out. Krik Krak Krun, now this story is done.”
http://www.aletria.com.br

Fonte: Mulheres Que Correm Com Os Lobos - Clarissa Pinkola Estés - Editora Rocco. Conto Africano-Americano. 

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