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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

Colaboradores

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Passagem do Ano

Carlos Drummond de Andrade
O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com [sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

domingo, 19 de dezembro de 2010

51H MMN - Os Pinheiros - Conto de Natal

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Havia em uma linda floresta de pinheiros. Alguns que conversavam entre si. Um pinheiro dizia ao outro: Estou cansado da floresta.Gostaria que um lenhador me cortasse e me levasse para ser um majestoso mastro de navio. Como adoro o mar! Como queria conhecer outros lugares, estar em cada porto. Deve ser emocionante!Outro pinheiro já pensava assim: Eu gostaria de ser levado para uma serraria e de que minha madeira fosse transformada em um bonito móvel. Um piano por exemplo... onde um pianista sensível fizesse vibrar as harmoniosas sonoridade que sairiam do meu interior. Como eu gostaria de ser um piano.Havia ainda, um lindo e pequenino pinheiro que suspirando dizia: Ah!Quem me dera ser uma árvore de Natal, em uma residência com grandes salas, ricos tapetes e lustres, espelhos e quadros. Finos cristais de festa. Muitas crianças a minha volta, e entre meus ramos ricos presentinhos, bolas coloridas, velas multicores, balas doces e bombons. Que alegria, que felicidade! Nada poderia ser igual.No entanto na floresta a beleza da natureza não era apreciada pelos pinheiros descontentes. O sol todas as manhãs vinha beijar-lhes a copa esverdeada. Os pássaros cantavam em seus ramos e os insetos zumbiam, zumbiam.O aroma das pequenas flores silvestres não os sensibilizavam. Os esquilos brincavam a sua volta e de vez em quando algumas lebres saltitantes apareciam para conversar, uma com as outras. Mas os pinheiros tinham outros sonhos. A claridade da lua, o frescor das madrugadas, não os enterneciam. Sonhavam com uma felicidade distante.Um dia, um lenhador, cortou-os e foram levados separadamente. Não sabemos para onde todos foram, porem acompanhamos o mais pequenino que desejava ser árvore de Natal. Vamos encontra-lo, engalanado de enfeites e guloseimas, assim mesmo como houvera sonhado. Estava radiante! Que alegria, como estava bonito! As crianças brincavam ao seu redor. Tantos presentes em caixas estavam colocados aos meus pés.A festa foi maravilhosa: porem o contentamento não durou muito. Lá pela meia noite todos queriam os presentes e as crianças, arrancaram-lhe todas as bolas e uma vela caiu acesa e começou a queimar-lhe um galho - ai, ai, ai, gemeu o pobre pinheiro. No outro dia, puseram-no em um porão junto a outras coisas velhas, e ali ficou , esquecido de todos. Seus ramos e folhas antes tão verdes e viçosos estavam agora amarelecidos e murchos. Estava triste e infeliz, arrependido de seu sonho. Sentia saudades da floresta agora. O sol, os pássaros as borboletas, os coelhos e os esquilos pulando e brincando ao seu redor distraiam-no tanto! Que saudades! Só os ratinhos visitavam-no, casualmente. Um dia um passou e perguntou-lhe: Sabe onde fica a cozinha? Estou com tanta fome, com vontade de comer um naco de toucinho ou de queijo. Não sei respondeu o pinheiro,mas estou tão só, não me deixes,Fique aqui comigo.Não, não disse o ratinho tenho que correr, correr... Lá se foi e aqui ficou o pobre pinheiro, chorando a sua solidão. Passou o tempo, foi-se o verão outono e já vinha o inverno e o nosso pinheiro estava velho e seco. Um dia o dono da casa resolveu fazer uma limpeza no porão e tirou o pobre pinheiro para o quintal,mandando o jardineiro cortá-lo para o fogo. As crianças ainda acharam uma estrela que servira-lhe de enfeite, quando estivera na sala como árvore de Natal. É minha disse o menino, e arrancou-lhe a peça,cheio de alegria.As últimas lágrimas, fluíram para a infeliz árvore.Feita em pedaços foi aproveitada para uma fogueira, e de seu tronco e poucas amagens, restou apenas um punhado de cinzas.As crianças estiveram ao seu redor, aproveitando o calor das chamas para o aquecimento de suas de suas mãos. O pinheiro era matéria que se transformou em energia, disse o menino maior que já conhecia ciência.

Moral: devemos estar contentes onde Deus nos colocou. Fazemos o nosso destino, dentro da Lei de Causa e Efeito. Também nada se perde, tudo se transforma.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

50H MMN - Como Um Velho Perdeu Sua Verruga


Há muito tempo atrás um velhinho morava com sua esposa perto de uma floresta. Na juventude ele fora um belo rapaz, mas à medida que envelhecia, uma feia verruga cresceu-lhe na face, ficando, com a idade, cada vez maior. Durante anos, recorreu a médicos e magos e experimentou pós e poções, mas nada adiantou. Por fim resignou-se com a verruga e tentava mesmo brincar a respeito. Um dia, o velho precisou de lenha para o fogo; foi então para as
montanhas e cortou algumas achas. Fazia um dia fresco de outono e ele
se sentia tão feliz que nem viu as nuvens se adensarem. Quando caíram
as primeiras gotas, correu a procurar abrigo. Encontrou uma árvore oca
e lá se escondeu, no exacto momento em que irrompeu a tempestade.Trovões sacudiam as montanhas e raios cintilavam ao seu redor; ele, porém, estava seco e seguro. Depois de muitas horas, a tempestade amainou e o velho saiu de seu refúgio. Ouviu vozes à distância e
pensou que seus vizinhos tinham vindo à sua procura. Mas quando viu do que se tratava, pasmou horrorizado - uma horda de gnomos e demônios se aproximava! Mais que depressa, volou para seu esconderijo na árvore, tremendo de medo. Os demônios chegaram e um dos gnomos - o mais horrendo de todos e obviamente o chefe - dirigiu-se ao seu bando, dizendo com um gesto: - Vamos dar uma festa aqui. Então o rei-demônio acomodou-se de costas para o velho, na frente da árvore oca. O pobre homem quase desmaiou de medo. Os demónios organizaram rapidamente um piquenique e começaram a cantar. O velho observava atónito - nunca vira nada semelhante. Mas quando os demónios começaram a dançar, não pôde conter o riso. Eram
desajeitados e deselegantes, e todos pareciam ridículos, dando coices para todo lado e caindo. Finalmente, o rei dos demónios com um gesto ordenou aos dançarinos que parassem. - Vocês são ruins demais! - disse, se lastimando. - Não existe ninguém aqui que saiba dançar bem? Ora, o velho adorava dançar e sabia dançar muito bem. - Eu poderia ensinar-lhe uns passos - pensou consigo mesmo, mas não ousava revelar sua presença, temendo que os demónios o matassem. O rei-demónio tornou a perguntar se alguém sabia dançar e o velho continuava dividido entre
seu amor pela dança e seu medo dos demónios. O rei-demónio perguntou uma terceira vez e o velho mandou seus receios às favas. Saiu da árvore e curvou-se perante o chefe dos demónios.
- Eu sei dançar, meu senhor - disse e começou a fazê-lo. Os demónios ficaram escandalizados por terem um homem em seu meio, mas, bem logo, admiraram a arte do velho. Começaram a marcar o ritmo com seus cascos, acompanhando a música e alguns se juntaram ao velho.
Por sua vez, o velho sabia que sua vida dependia de ele dançar bem, de forma que pôs toda sua alma e todo seu coração em seus movimentos e divertiu-se, realmente. Quando parou, o rei-demónio aplaudiu e convidou-o a sentar-se ao seu lado, oferecendo-lhe um copo de vinho.
- Você precisa voltar amanhã para dançar para nós - o rei-demónio disse. - Gostaria muito de vir - respondeu o velho. Um dos conselheiros do rei admoestou-o. - Não se ode confiar nos
homens. Precisamos ficar com algo que nos dê certeza de que ele vai voltar. - Infelizmente, o velho nada trazia de valor consigo. - Bem, então - o rei-demónio disse - vou ficar com isto como penhor - e, estedendo a mão, agarrou a verruga do velho e arrancou-a com a facilidade de quem arranca um pessêgo maduro. - Trate de voltar amanhã - ordenou, e todos os gnomos desapareceram. O velho mal podia acreditar no que acontecera. Passou a mão pelo rosto e percebeu o quão suave - e simétrico! - estava. Ficou tão feliz, que
foi para casa pulando, cantando - e dançando - durante todo o trajecto. A esposa, ao vê-lo livre da verruga, mostrou-se eufórica e ambos celebravam sua boa sorte. Ora, o velho tinha um vizinho malvado e vaidoso que também tinha uma verruga e que nunca se cansara de procurar um tratamento para ela. Quando soube da celebração, foi espiar e ficou perplexo ao ver que a
verruga do velho havia sumido. este homem invejosos imediatamente perguntou o que acontecera e o velho lhe contou a história dos demónios. O vizinho, então, insistiu para ir vê-los, no dia seguinte, em lugar do velho. No dia seguinte, pois, o vizinho vaidoso rumou para as montanhas e encontrou a árvore oca, exactamente como o velho lhe dissera. E, sem sombra de dúvida, ao anoitecer, o bando de demónios apareceu. - Onde está o velho que ia dançar para nós? - o rei-demônio perguntou. O mau vizinho rastejou para fora da árvore, tremendo de pavor. - Aqui estou! - disse e começou a dançar. Ele, no entanto, nunca havia aprendido a dançar; considerava a dança aviltante à sua dignidade de forma que apenas pulava de um lado para outro, agitando os braços. Ele achava que os demónios não iriam notar a diferença, porém o rei ficou ofendido. - Mas que coisa horrível! - o rei-gnomo exclamou. - Você não está dançando como ontem! - O rei não atinara que estava tratando com outra pessoa porque, a seu ver, todos os humanos eram iguais. - Não dá para aguentar! - o rei-demónio gritou, afinal. Vasculhou o bolo e encontrou a verruga. - Olhe, devolvo-lhe o penhor. Dizendo isso, atirou a verruga no homem vaidoso e esta grudou-lhe no rosto e não havia dúvida: tinha duas verrugas, uma em cada face!
Esgueirou-se para dentro de casa bem mais tarde da noite, e ninguém viu sua cara nunca mais porque, desse dia em diante, passou a usar um chapéu de abas largas, bem enfiado na cabeça.
Quanto ao velho que perdeu sua verruga, ele viveu ainda muito tempo e dançava quando se sentia feliz. O que, na verdade, acontecia quase sempre!
Lenda do Japão
Retirado do Blog

http://contosencantar.blogspot.com/

* * *
Resumo Esse artigo tem como objetivo mostrar a importância do arquétipo da criança divina a partir das noções básicas de psicologia analítica de C.G.Jung, e encontrando na arteterapia um meio facilitador da conexão com esse arquétipo. Liga Diniz “... Sem a criança, não existiria deus-pai nem deus-mãe. Sem o filho, obviamente, não existiria o ser humano. Por isso, porque o gênero humano significa existência, vida, e essa vida se inicia bem pequena, com mãozinhas e pezinhos minúsculos, e porque essa vida estabelece a união com Deus, e Deus criou a vida - à sua imagem, por isso a criança é divina.” Angela Waiblinger O Arquétipo da Criança Divina
C.G.Jung, psiquiatra Suíço, criador da psicologia analítica, considerava a existência de três níveis da psique humana: a consciência, o inconsciente pessoal, o inconsciente coletivo.
A consciência aglomera pensamentos, palavras, lembranças, identidade, sensações, gestos, sentimentos, imagens, fantasias... Refere-se ao estar desperto e atento, observando e registrando tudo o que acontece no mundo que nos rodeia e dentro de nós..Tem como função primordial situar o sujeito no tempo e no espaço, realizando todas as orientações e adaptações necessárias para possibilitar a relação que se estabelece na troca do sujeito com o meio físico e humano. Para que qualquer conteúdo psíquico torne-se consciente terá necessariamente de relacionar-se com o ego, que é o centro da consciência. Inconsciente pessoal corresponde a “... uma camada mais ou menos superficial” (Jung, OC V.XVIII/2, 1159) de conteúdos, cujo marco divisório com o consciente não é tão rígido. Contém todos os conteúdos esquecidos ou reprimidos pelo indivíduo, deliberada ou involuntariamente. Estes se referem às experiências vividas, ligadas às disposições internas do indivíduo. Encontram-se também no inconsciente pessoal as percepções e impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente. Nele encontram-se os complexos “grupos de representações carregados de
forte potencial afetivo, incompatíveis com a atitude consciente” (Jung, Vida e Obra; Nise Silveira – pág.73) Inconsciente coletivo seria a camada mais profunda da psique constituída pelos materiais que foram herdados da humanidade. No Inconsciente Coletivo encontram-se os arquétipos, formas estruturantes herdadas que é comum a todo ser humano embora se manifestem de maneira diferente de acordo com as culturas. Como exemplos de arquétipos são:
o Herói, a Grande Mãe, do Pai, da Criança Divina, do Órfão, dos Irmãos Inimigos, entre tantos outros. O arquétipo da criança divina diz respeito a nossa criatividade, espontaneidade, essência, é o futuro em potencial. ”Um aspecto fundamental do motivo da criança é o seu caráter de futuro.” (Jung, OC V. IX/I, 278) “... a “ criança” é dotada de um poder superior e que se impõe
inesperadamente, apesar de todos os perigos.A “ criança” nasce do útero do inconsciente,gerada no fundamento da natureza viva. É uma personificação de forças vitais, que vão além do alcance limitado da nossa consciência, dos nossos caminhos e possibilidades,desconhecidos pela consciência e sua unilateralidade, e uma inteireza que abrange as profundidades da natureza. Ela representa o mais forte e inelutável impulso do ser, isto é, o impulso de realizar-se a si mesmo”. (Jung, OC V. IX/I 289) RESGATANDO A CRIANÇA INTERIOR "Fui convidada para dar uma palestra e workshop numa universidade com a finalidade de falar sobre a criança interior e a importância de ativar a criatividade e espontaneidade no individuo e na sociedade. A nossa saúde e a nossa criatividade esta relacionada com a forma com que lidamos com a nossa criança, não só a criança concreta, como a criança interior. criança é criativa. Resgatar a criança é resgatar o núcleo de saúde do indivíduo, e esse resgate de saúde do indivíduo tem repercussão na
coletividade. Utilizei-me então do conto “O velho que perdeu a verruga” como instrumento de trabalho para ilustrar esse assunto, pois este retrata esse resgate da criança interior. "
Ligia Diniz

domingo, 5 de dezembro de 2010

49H- MMN - Formiguinha Aventureira


Era uma vez uma formiguinha muito curiosa, muito espertinha, muito corajosa e também muito vaidosa. Sempre procurava estar asseada, sempre se vestia diferente das outras formigas, era a mais bonita. Tinha a mania de ficar a mirar-se ao espelho. Ela era também muito sonhadora. Sonhava em viajar pelo mundo e adorava passear pelo bosque. A rainha Paciência ficava sempre de olho na formiguinha, pois ela era órfã, seus pais tinham morrido de uma morte superpesada, eles foram pisados por uma pessoa de um metro e oitenta e cinco centímetros, e
cento e dez quilos, que tinha vindo fazer um piquenique no bosque. A rainha queria educá-la à sua maneira, pois achava que ela tinha uma caídinha pra ser preguiçosa, achava que ela vivia nas nuvens. E quem já viu formiga preguiçosa e sonhadora? A rainha dizia que ela tinha
vocação pra ser cigarra. Mas como? Se nem cantar bonito como uma cigarra ela sabia, embora tentasse, mas não tinha jeito, tava mais pra cantiga de grilo do que de cigarra.
A rainha Paciência mesmo com toda sua paciência, vivia brigando com
ela. Não dava trégua, queria que ela trabalhasse igual as outras formigas. O inverno estava chegando, tinham que encher a despensa com bastante alimento, pois tinha saído no jornal da televisão que esse
inverno seria muito forte. Todas as formigas estavam pegando alimento e lenha no bosque. Ela também trabalhava, mas sozinha, pois detestava aquela fila das formigas. Sempre tudo igual, todas se vestiam do mesmo jeito, faziam as mesmas coisas, viviam sempre em fila. E só faziam
trabalhar, trabalhar, trabalhar. Ela sempre sonhava e dizia:
_Ainda vou ser a rainha das formigas, a primeira coisa que vou decretar será acabar com a fila. Quem já viu tanta fila? Parece bando de abelhas...fila pra pegar folha; fila pra trazer água; fila pra tomar banho; fila até pra ir pra cama. Não aguento mais essa vida de andar uma atrás da outra, não sou vagão de trem, eu hem?! Quero liberdade, quero ser independente, viajar, conhecer o mundo, trabalha-se demais aqui, ninguém brinca, ninguém curte a vida. A rainha passa o dia naquele trono, não coloca nem a cabeça na janela,vivemos todos num formigueiro superapertado, quando entram duas formigas na cozinha, uma tem que sair de ré, pois não dá pra fazer a
curva com o corpo. Quando eu for a rainha, tudo vai ser diferente.Então, um dia que estavam todos dormindo, inclusive o vigia do buraco de formiga , ela arrumou sua trouxinha enrolada num lençol e amarrado no pau de vassoura e saiu pelo mundo atrás de aventuras. Quando amanheceu, já estava bem longe do seu buraco. De repente ela viu um coelhinho vindo na sua direção, quase que a atropelava. _ Ei! Olha por onde anda! Quase que você me pisava.
Desculpa, não te vi. E o que você está fazendo sozinha? Nunca vi
formiga andar só. Vocês só andam em grupo, uma atrás da outra._ Eu sou diferente. Sou orfã. E ainda mais eu detesto a vida de formiga. Não aguentava mais aquela vida de fila, minha vida era uma fila só. Dei um basta a tudo isso, quero ser independente.Sou sozinha
no mundo mesmo, como já disse, não tenho família. _ E daí? Conheço um monte de formigas orfãs, não interessa se tem pais ou não, quem manda mesmo é a rainha. Ué...e a sua rainha deixou você ir embora do buraco - quartel? Que rainha mais negligente, sem
autoridade, nunca vi disso. Uma revolucionária dentro do buraco e ela não fez nada?.Se você fosse uma formiga do reinado da rainha Ditadurajá com certeza você estaria de castigo na solitária. _ Quem é essa rainha? Nunca ouvi falar. E olha que eu conheço algumas rainhas. Os formigueiros de vez em quando se visitam, temos
que estar sempre unidas. Mas essa rainha Ditado...quero dizer
Dentadura não conheço. _ Rainha Ditadurajá, formiguinha! Ih... você é meio maluquinha, né?
_ Ditadurajá, Dentadura, seja lá o que for... não conheço nem quero conhecer e tenho raiva de quem conhece. Tchau! Estou perdendo meu tempo com voce. _Que formiguinha abusada, eu hem?! Se cuide, tchau! E lá vai a formiguinha Aventureira se aventurar pelo mundo. Ela
prestava atenção a tudo que passava: cada árvore diferente, cada pedra, cada flor, só não prestou atenção ao dia que já tava passando, estava quase escurecendo.
E aí? Onde ela iria passar a noite? _ Ai...tou ficando com medo, tá ficando escuro. Se pelo menos eu achasse um buraco de formiga. Vai embora medo! Nem vem que não tem! Não tenho medo de nada! Continuou sua caminhada, quando, de repente, começou a escutar um barulho:_ Parece uma batucada, será uma festa? O barulho vem daquele lado, perto da mangueira elegante.
O barulho vinha de um formigueiro que ficava embaixo da mangueira elegante. A formiguinha foi devagarinho se aproximando. Ela era tão corajosa que teve a ousadia de entrar no formigueiro. Êta formiguinha
danadinha! O que ela viu deixou-a chocada: Um monte de formigas trabalhando com correntes amarradas nas pernas. Formigas velhas,
crianças, doentes; formigas que não podiam de forma alguma estar trabalhando. Que loucura era essa que ela estava vendo? Pensou em sair dali correndo, mas não podia fazer isso com aquelas
formigas, tinha que ajudá-las de alguma forma, e também estava supercuriosa para saber por que estavam trabalhando de madrugada e daquela forma como priosioneiras.
Ela se escondeu atrás de uma saliência do buraco de formiga e conseguiu falar com uma delas. Era uma formiga bem velhinha, bem magrinha, as perninhas eram mais finas do que a mais fina das teias de aranha que podia existir no mundo. A formiguinha Aventureira teve uma
pena enorme, teve até vontade de chorar, mas se controlou e perguntou:
_ Por que vocês estão trabalhando, se vocês não têm mais condições
de trabalhar? Por que até formigas nenêns estão trabalhando? Por que estão trabalhando amarradas? E por que estão trabalhando a essa hora da noite?
Eram tantos porquês que a formiga velhinha magricela ficou tonta.
_ Primeiro você quer saber o quê? Aliás, antes de responder todas suas perguntas eu gostaria de saber quem é você, e o que está fazendo aqui no buraco-prisão Casa de Detenção Tirana, pertencente ao formigueiro da rainha Ditadurajá. _ Eu estava passando aqui por perto quando escutei um barulho esquisito, então, me aproximei para ver o que era, pensei que estava
havendo uma festa, pois o barulho do martelo de vocês parecia uma
batucada de samba. Acabei de ouvir falar dessa rainha Ditadurajá.
_ É que a gente fica fazendo isso para tentar distrair as crianças,
fazemos nosso trabalho em ritmo de samba para elas não ficarem tão
tristes, pois como você deve ter percebido somos prisioneiras da rainha Ditadurajá. Quando manda prender alguém que ela acha que fez alguma coisa errada, a família da dita cuja é presa também, por isso que tem aqui velhos, crianças e formigas doentes. Pois a família toda
tem que ser presa, independente de idade e de saúde. Mas o que você
estava fazendo sozinha na floresta? A sua rainha deixa você sair sozinha?
_ Eu fugi do meu formigueiro. Mas a rainha Paciência era um amor de formiga. Eu fugi porque não aguentava mais a vida de formiga. Mas
deixa isso prá lá...eu gostaria de ajudar vocês. Eu só vi dois vigias na entrada da prisão, e mesmo assim estavam distraídos jogando dominó, tem mais algum vigia por perto?
_ Não. Ninguém se arrisca a fugir. Temos medo, pois o fugitivo vai parar na solitária.
_ Mas que rainha cruel! Isso não pode continuar. Irei ajudar vocês.Eu tenho aqui na minha mochila um canivete super amolado, ele corta até metal, irei cortar sua corrente e você me ajuda a cortar das outras. Depois amarraremos os vigias e fugiremos pela floresta, correremos a
noite toda e quando amanhecer já estaremos bastante longe. _Mas isso não é certo...temos que obedecer nossa rainha. _ Eu topo e a senhora também, viu dona Graciosa? Muito prazer, eu me
chamo Dona Dorinha, escutei toda conversa de vocês. Gostei do seu plano e gostei muito de você, muito obrigada por ter a coragem de nos ajudar. _ Muito prazer dona Dorinha, também gostei da senhora, mas vamos lá, pois temos que aproveitar a noite, e pelo que estou vendo, tem formiga
que não vai ter condições de correr, vamos ter que carregá-las, portanto, vamos logo com isso!
Depois que todas estavam soltas e os vigias presos, as mais fortes carregaram nas costas as mais fraquinhas e os nenens, e saíram correndo mais rápido do que coelho assustado com bomba de São João. Quando o dia amanheceu, elas já estavam bem longe da prisão. Mesmo
assim a formiguinha Aventureira achou melhor as últimas ficarem apagando os rastos, e para se sentirem mais seguras ainda achou melhor atravessarem o rio. A formiga Aventureira pegou um pedaço de pau grande e empurrou pra perto do rio, pediu pra que todas as formigas subissem nele e deixassem a correnteza levá-las para bem longe. Desceram cascatas enormes e foram parar num bosque lindo. Chegando lá a formiguinha Aventureira reuniu todos numa pedra e fez uma reunião. _Bem amigas...graças a Deus conseguimos fugir. Vocês agora são livres. Acho que aqui não tem mais perigo. Jamais a rainha Ditadurajá encontrará vocês aqui, pois estamos bastante longe do seu buraco reinado. E para comemorar vamos catar comidas e bebidas, quem for músico improvise um instrumento, pois vamos fazer uma festança, vamos cantar e dançar para comemorar nossa vitória, e vamos ao grito de vitória! Iupi!!iupi!!
E todos gritaram: Iupi!!Iupi!! A festa foi de uma animação tamanha, os outros bichos atraídos pela alegria também participaram, mesmo sem saber o motivo da comemoração.A festa durou o dia inteiro.Quando acabou, todos adormeceram exaustos. Ao amanhecer a formiguinha
Aventureira organizou suas coisas para continuar a viagem, então, dona Graciosa com o barulho da formiguinha Aventureira, acordou. _Ué...você vai pra onde? Não vai ficar com a gente? E quem vai tomar conta da gente? Quem vai mandar na gente?_ Vocês agora são livres. Podem fazer com as suas vidas o que quiserem. _ Ei! Acordem formigas! A formiga Aventureira vai nos abandonar! E agora como vamos viver? Todas se levantaram assustadas.
_ Você não pode nos abandonar, não faça isso com a gente, senão podemos morrer. - Calma! Tudo bem. Irei ficar com vocês uns dias até ver que já estão organizadas. Primeira coisa que temos a fazer é um formigueiro. De preferência bem grande e bem bonito. Vou fazer o projeto nessa folha. Ela fez um formigueiro enorme, cada família com seu quarto. Uma
piscina, um parque para as crianças, uma salão para dança, um salão
para a ceia, ninguém tinha visto um projeto de formigueiro tão bonito. Depois de alguns dias ficou pronto. O formigueiro ficou maior do que pensavam. E ficou de uma beleza estonteante. Todo enfeitado de flores,
cada cantinho era mais bonito do que o outro. Dava prazer ficar nesse formigueiro no inverno.
Ela ensinou pra elas a dividirem as tarefas de uma forma que ficasse
com tempo livre para se divertirem, e não precisava ficar em fila,
cada um fazia sua parte, todos faziam suas tarefas com o maior
capricho, mas no seu ritmo e cada um com sua vocação. As que tinham
vocação para lenhador cuidavam da lenha, as que gostavam de cozinhar
trabalhavam na cozinha. E assim a vida do formigueiro era alegria só.
Tinha noite que cantavam e dançavam sem parar. Todos viviam felizes, as doentes ficaram com saúde novamente. As velhinhas eram tratadas com respeito. As crianças viviam sorrindo e
fazendo suas traquinagens. Os outros bichos do bosque nunca tinham visto um formigueiro tão
feliz. Mas um dia a formiguinha Aventureira deu a péssima notícia:
iria embora. _Bem, o combinado foi esse, por favor não fiquem tristes. _Nós sabemos, mas você não é feliz aqui? _Nunca fui tão feliz na minha vida. Mas eu tenho que continuar o meu destino.
_ E quem foi que disse que o seu destino não é ser rainha desse formigueiro que você mesma criou? Ela se virou para ver quem tinha falado isso com uma voz tão bonita. Era o formiguinha Delírio e realmente ele era delirante, era o colírio de todas as formiguinhas do formigueiro. Ela o achava lindo, forte, trabalhador, mas sempre discreto, calado. Todas ficaram
surpresas quando ouviram-no falar assim. E ele continuou:
_ Vocês não concordam comigo? Ela já pode ser considerada nossa rainha oficial; aliás desde o início ela tem feito o papel de rainha, e das melhores! Acho que não existe nesse planeta um formigueiro mais feliz. Não passamos o dia em fila, todos nós somos livres, e aprendemos a
dividir nosso tempo de uma forma que trabalhamos com prazer e para viver com mais conforto e alegria, e não como os outros formigueiros que vivem para trabalhar. Portanto, desejamos do fundo dos nossos corações que você seja nossa rainha. Iremos respeitá-la como a rainha das rainhas. Todos aplaudiram de pé. A formiguinha ficou toda emocionada. Realmente
ela era muito feliz ali. Teve mais aventuras do que nunca imaginou. E
principalmente ficou encantada com o discurso do formiguinha Delírio. Ela aceitou toda feliz ser a rainha oficial. Os dias foram passando, ela e o formiguinha Delírio foram se
apaixonando e resolveram casar. Convidaram todas as formigas do formigueiro da rainha Paciência. O casamento durou três dias e três noites de festa. O formigueiro da rainha Ditadurajá teve uma revolução e tiraram a rainha Ditadurajá do seu trono. O exemplo do formigueiro da rainha Aventureira foi falado e imitado em todos os formigueiros do planeta
Terra e até do planeta Marte. Até as abelhas começaram a imitar a rainha Aventureira.
E todas as formigas de todos os formigueiros viveram felizes para sempre.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pedreiro


Um velho pedreiro que construía casas estava
pronto para se aposentar...
Ele informou o chefe do seu desejo de se aposentar e passar
mais tempo com sua família.
Ele ainda disse que sentiria falta do salário, mas realmente
queria se aposentar.
A empresa não seria muito afetada pela saída do pedreiro, mas o
chefe estava triste em ver um bom funcionário partindo e pediu ao
pedreiro para trabalhar em mais um projeto, como um favor.
O pedreiro não gostou mas, acabou concordando.
Foi fácil ver que ele não estava entusiasmado com a idéia.
Assim ele prosseguiu fazendo um trabalho de segunda qualidade
e usando materiais inadequados.
Quando o pedreiro acabou, o chefe veio fazer a inspeção da
casa construída.
Depois de inspecioná-la, deu a chave da casa ao pedreiro e disse:
- "Esta é a sua casa. Ela é o meu presente para você".
O pedreiro ficou muito surpreso. Que pena! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito tudo diferente....
O mesmo acontece conosco...
Nós construímos nossa vida, um dia de cada vez e muitas vezes
fazendo menos que o melhor possível na sua construção.
Depois, com surpresa, nós descobrimos que precisamos viver na
casa que nós construímos. Se pudéssemos fazer tudo de novo, faríamos
tudo diferente. Mas não podemos voltar atrás.
Tu és o pedreiro. Todo dia martelas pregos, ajustas tábuas e constróis paredes.
Alguém já disse que: "A vida é um projeto que você mesmo
constrói"?.
Tuas atitudes e escolhas de hoje estão construindo a "casa" em
que vais morar amanhã.
Portanto construa com sabedoria!
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