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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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quinta-feira, 31 de março de 2011

59H MMN - Construindo Pontes

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Conta-se que, certa vez, dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira e grande desavença em toda uma vida e trabalho lado a lado, repartindo as ferramentas e cuidando um do outro. Durante anos eles percorreram uma estrada estreita e muito comprida, que seguia ao longo do rio para, ao final de cada dia, poderem atravessá-lo e desfrutar um da companhia do outro. Apesar do cansaço, faziam a caminha com prazer, pois se amavam. Mas agora tudo havia mudado. O que começara com um pequeno mal entendido finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total silêncio. Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem em sua porta. Ao abri-la notou um homem com uma caixa de ferramentas de carpinteiro na mão. - Estou procurando trabalho, disse ele. Talvez você tenha um pequeno serviço que eu possa executar. - Sim!, disse o fazendeiro, claro que eu tenho trabalho para você. Veja aquela fazenda além do riacho. É do meu vizinho. Na realidade, meu irmão mais novo. Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. - Vê aquela pilha de madeira perto do celeiro? Quero que você construa uma cerca bem alta ao longo do rio para que eu não precise mais vê-lo. - Acho que entendo a situação, disse o carpinteiro. Mostre-me onde estão a pá e os pregos que certamente farei o trabalho que lhe deixará satisfeito. Como precisava ir à cidade, o irmão mais velho ajudou o carpinteiro a encontrar o material e partiu. O homem trabalhou arduamente durante todo aquele dia medindo, cortando e pregando. Já anoitecia quando terminou sua obra. O fazendeiro chegou da sua viagem e seus olhos não podiam acreditar no que viam. Não havia qualquer cerca! Em vez da cerca havia uma ponte que ligava as duas margens do riacho. Era realmente um belo trabalho, mas o fazendeiro ficou enfurecido e falou: - Você foi muito atrevido construindo essa ponte após tudo que lhe contei. No entanto, as surpresas não haviam terminado. Ao olhar novamente para a ponte, viu seu irmão aproximando-se da outra margem, correndo com os braços abertos. Por um instante permaneceu imóvel de seu lado do rio. Mas, de repente, num só impulso, correu na direção do outro e abraçaram-se chorando no meio da ponte. O carpinteiro estava partindo com sua caixa de ferramentas quando o irmão que o contratou pediu-lhe emocionado: - Espere! Fique conosco mais alguns dias. E o carpinteiro respondeu: - Eu adoraria ficar, mas tenho muitas outras pontes para construir.


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Não Sei O Que é Angústia ... José Alencar


"Crianças" HOJE estou muito comovida. Minas Gerais, O Brasil,Perde um Grande Homem. Lutou até o final, e guardou a Esperança e a Fé. Saudades.



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Ser mais mais H U M I L D E faz parte do processo. Um aprendizado, este depoimento! "Estou preparado para a morte" Na semana passada, o vice-presidente da República, José Alencar, de 77 anos, deu início a mais uma batalha contra o câncer. É o 11º tratamento ao qual ele se submete na tentativa de controlar o sarcoma, um câncer agressivo e recidivo, diagnosticado pela primeira vez em 2006. A abordagem de agora consiste em quatro sessões semanais de quimioterapia. A químio foi decidida pelos médicos uma vez que o câncer de Alencar, com vários nódulos na região do abdômen, não respondeu a uma medicação ainda em fase experimental, em testes no hospital MD Anderson, centro de excelência em pesquisas oncológicas, nos Estados Unidos. Desde o início desse tratamento, em maio, o sarcoma cresceu cerca de 30%. A químio é uma tentativa de conter o alastramento do tumor. Visivelmente abatido, quase 10 quilos mais magro, Alencar recebeu a repórter Adriana Dias Lopes na sala 215 do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, enquanto passava pela primeira sessão de químio. O encontro durou cerca de uma hora. Nos primeiros dez minutos, o vice-presidente comeu dois hambúrgueres e tomou um copo de leite. Alencar chorou duas vezes. Ao falar de seus pais e da humildade, a virtude que, segundo ele, a doença lhe ensinou. Como o senhor está se sentindo? Está tudo ótimo: pressão, temperatura, coração e memória. Tenho apetite, inclusive só não como torresmo porque não me servem. O meu problema é o tumor. Tenho consciência de que o quadro é, no mínimo, dificílimo – para não dizer impossível, sob o ponto de vista médico. Mas, como para Deus nada é impossível, estou entregue em Suas mãos. Desde quando o senhor sabe que, do ponto de vista médico, sua doença é incurável? Os médicos chegaram a essa conclusão há uns dois anos e logo me contaram. E não poderia ser diferente, pois sempre pedi para estar plenamente informado. A informação me tranquiliza. Ela me dá armas para lutar. Sinto a obrigação de ser absolutamente transparente quando me refiro à doença em público – ninguém tem nada a ver com o câncer do José Alencar, mas com o câncer do vice-presidente, sim. Um homem público com cargo eletivo não se pertence.. O senhor costuma usar o futebol como metáfora para explicar a sua luta contra a doença. Certa vez, disse que estava ganhando de 1 a 0. De outra, que estava empatado. E, agora, qual é o placar? Olha, depois de todas as cirurgias pelas quais passei nos últimos anos, agora me sinto debilitado para viver o momento mais prazeroso de uma partida: vibrar quando faço um gol. Não tenho mais forças para subir no alambrado e festejar. Como a doença alterou a sua rotina? Mineiro costuma avaliar uma determinada situação dizendo que "o trem está bom ou ruim". O trem está ficando feio para o meu lado. Minha vida começou a mudar nos últimos meses. Ando cansado. O tratamento que eu fiz nos Estados Unidos me deu essa canseira. Ando um pouco e já me canso. Outro fato que mudou drasticamente minha rotina foi a colostomia (desvio do intestino para uma saída aberta na lateral da barriga, onde são colocadas bolsas plásticas), herança da última cirurgia, em julho. Faço o máximo de esforço para trabalhar normalmente. O trabalho me dá a sensação de cumprir com meu dever. Mas, às vezes, preciso de ajuda. Tenho a minha mulher, Mariza, e a Jaciara (enfermeira da Presidência da República) para me auxiliarem com a colostomia. Quando, por algum motivo, elas não podem me acompanhar, recorro a outros dois enfermeiros, o Márcio e o Dirceu. Sou atendido por eles no próprio gabinete. Se estou em uma reunião, por exemplo, digo que vou ao banheiro, chamo um deles e o que tem de ser feito é feito e pronto. Sem drama nenhum. O senhor não passa por momentos de angústia? Você deveria me perguntar se eu sei o que é angústia. Eu lhe responderia o seguinte: desconheço esse sentimento. Nunca tive isso. Desde pequeno sou assim, e não é a doença que vai mudar isso. O agravamento da doença lhe trouxe algum tipo de reflexão? A doença me ensinou a ser mais humilde. Especialmente, depois da colostomia. A todo momento, peço a Deus para me conceder a graça da humildade. E Ele tem sido generoso comigo. Eu precisava disso em minha vida. Sempre fui um atrevido. Se não o fosse, não teria construído o que construí e não teria entrado na política. É penoso para o senhor praticar a humildade? Não, porque a humildade se desenvolve naturalmente no sofrimento. Sou obrigado a me adaptar a uma realidade em que dependo de outras pessoas para executar tarefas básicas. Pouco adianta eu ficar nervoso com determinadas limitações. Uma das lições da humildade foi perceber que existem pessoas muito mais elevadas do que eu, como os profissionais de saúde que cuidam de mim. Isso vale tanto para os médicos Paulo Hoff, Roberto Kalil, Raul Cutait e Miguel Srougi quanto para os enfermeiros e auxiliares de enfermagem anônimos que me assistem. Cheguei à conclusão de que o que eu faço profissionalmente tem menos importância do que o que eles fazem. Isso porque meu trabalho quase não tem efeito direto sobre o próximo. Pensando bem, o sofrimento é enriquecedor. Essa sua consideração não seria uma forma de se preparar para a morte? Provavelmente, sim. Quando eu era menino, tinha uma professora que repetia a seguinte oração: "Livrai-nos da morte repentina". O que significa isso? Significa que a morte consciente é melhor do que a repentina. Ela nos dá a oportunidade de refletir. O senhor tem medo da morte? Estou preparado para a morte como nunca estive nos últimos tempos. A morte para mim hoje seria um prêmio. Tornei-me uma pessoa muito melhor. Isso não significa que tenha desistido de lutar pela vida. A luta é um princípio cristão, inclusive. Vivo dia após dia de forma plena. Até porque nem o melhor médico do mundo é capaz de prever o dia da morte de seu paciente. Isso cabe a Deus, exclusivamente. O senhor se deu conta da comoção nacional que tem provocado? Não há fortuna no mundo capaz de retribuir o carinho dos brasileiros. Sou um privilegiado. Você não imagina a quantidade de manifestações afetuosas que tenho recebido. Um dia desses me disseram que, ao morrer, iria encontrar meu pai, falecido há mais de cinquenta anos. Aquilo me emocionou profundamente. Se for para me encontrar com mamãe e papai, quero morrer agora. A esperança de encontrar pessoas queridas é um alento muito grande – e uma grande razão para não ter medo do momento da morte. O senhor se tornou mais devoto com a doença? Sou de família católica, mas nunca fui de ir à missa. Nem agora faço isso. Quando a coisa aperta, rezo o pai-nosso. Ultimamente, tenho rezado umas duas, três vezes ao dia. Se recebesse a notícia de que foi curado, o que faria primeiro? Abraçaria a Mariza e diria: "Muito obrigado por ter cuidado tão bem de mim".

segunda-feira, 28 de março de 2011

Paulo Coelho


Paulo Coelho (24 de agosto de 1947) Escritor Brasileiro.

"Não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia."

"Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo."

"Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Você nunca será minha e por isso terei você para sempre." (Brida)

"Um ancião índio norte-americano, certa vez, descreveu seus conflitos internos da seguinte maneira: - Dentro de mim há dois cachorros. Um deles é cruel e mau. O outro é muito bom, e eles estão sempre brigando. Quando lhe perguntaram qual cachorro ganhava a briga, o ancião parou, refletiu e respondeu: - Aquele que eu alimento mais frequentemente."

"Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que o seu caminho é o único. Nunca podemos julgar a vida dos outros, porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia..." (Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei)

"Quantas coisas perdemos por medo de perder." (Brida)

"De que me adianta temer o que já aconteceu? O tempo do medo já aconteceu, agora, começa o tempo da esperança... "

"No amor ninguém pode machucar ninguém; cada um é responsável por aquilo que sente e não podemos culpar o outro por isso... Já me senti ferida quando perdi o homem por quem me apaixonei... Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém... Essa é a verdadeira experiência de ser livre: ter a coisa mais importante do mundo sem possuí-la."

"A fé consciente é liberdade. A fé instintiva é escravidão. A fé mecânica é loucura. A esperança consciente é força. A esperança emocional é covardia. A esperança mecânica é doença. O amor consciente desperta o amor. O amor emocional desperta o inesperado. O amor mecânico desperta o ódio."

"Se você não acorda cedo, nunca conseguirá ver o sol nescendo. Se você não reza, embora Deus esteja sempre perto, você nunca conseguirá notar sua presença."
"Senhor, dai-nos sempre a tua companhia, e a companhia de homens e mulheres que têm dúvidas, agem, sonham, se entusiasmam e vivem como se cada dia fosse dedicado a tua glória."
"A gente sempre destrói aquilo que mais ama em um campo aberto, ou numa emboscada; alguns com a beleza do carinho e outros com a dureza da palavra; os covardes destróem com um beijo, os valentes, destróem com a espada."

"A possibilidade de realizarmos um sonho é o que torna a vida interessante."

"O guerreiro da luz aprendeu que Deus usa a solidão para ensinar a convivência. Usa a raiva para mostrar o infinito valor da paz. Usa o tédio para ressaltar a importância da aventura e do abandono. Deus usa o silêncio para ensinar sobre a responsabilidade das palavras. Usa o cansaço para que se possa compreender o valor do despertar. Usa a doença para ressaltar a benção da saúde. Deus usa o fogo para ensinar sobre a água. Usa a terra para que se compreenda o valor do ar. Usa a morte para mostrar a importância da vida."

" Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um 'sim' ou um 'não' pode mudar toda a nossa existência." (Nas margens do Rio Piedra eu sentei e chorei)

"A felicidade às vezes é uma bênção, mas geralmente é uma conquista."

"Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz - disse ele depois de um tempo - temos um pequeno período de tranquilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e infestar todo o ambiente em que vivemos. Começamos a nos tornar cruéis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e psicoses. O que queríamos evitar no combate - a decepçao e a derrota - passa a ser o único legado de nossa covardia. E, um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livrasse de nossas certezas, de nossas ocupaçoes, e daquela terrível paz das tardes de domingo."(O diário de um Mago)

"Você foi a esperança nos meus dias de solidão,a angústia dos meus instantes de dúvida, a certeza nos momentos de fé."

"O maior de todos os pecados: o arrependimento."

"Sempre que possível, seja claro. Mas que sua clareza não seja o motivo para ferir o outros."

"A linguagem de seu coração é que irá determinar a maneira correta de descobrir e manejar a sua espada."

"Tudo que acontece uma vez poderá nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, certamente acontecera uma terceira. "

Retirado do site:




Imagem Retirada do Google

58H MMN - A Mensagem Secreta

(História do Folclore Persa)

Era uma vez um homem muito rico e generoso que tinha um lindo papagaio numa belíssima gaiola de ouro. Era uma ave tão esperta e falante que, de longe, todos confundiam sua voz com a de uma pessoa. Certo dia, o homem decidiu fazer uma viagem e perguntou à esposa, à filha e aos empregados o que desejavam que ele lhes trouxesse de presente. Aproximando-se da gaiola, disse ao papagaio: -Meu querido amigo o que você gostaria de ganhar? -Não preciso de nada – respondeu a ave -, tenho apenas um desejo. Neste país para o qual o senhor vai viajar, existe uma grande floresta onde há uma árvore maravilhosa, a árvore dos papagaios. Foi lá que eu nasci. É lá que estão todos os meus amigos. Por favor, vá até eles e transmita-lhes esta minha mensagem: “Meu papagaio, que mora em minha casa, numa linda gaiola dourada, mandou-me dizer a vocês, que vivem livremente pela floresta, jardins e bosques, que o coração de cada um de vocês ficou frio e duro como pedra, pois se esqueceram de seus infelizes irmãos que vivem trancafiados. Se vocês não os ajudarem, morrerão na gaiola”. – E o papagaio acrescentou ainda: -Por favor, meu senhor, preste muita atenção na resposta que eles lhe darão. O homem anotou a mensagem e partiu. Atravessou muitos lagos e florestas, até chegar ao país onde nascera o papagaio. Depois, prosseguiu em sua rota para descobrir onde ficava a magnífica árvore que ele descreveu. Ao encontrá-la ficou surpreso com a beleza das aves misturadas às folhas e galhos daquela árvore imensa. Tirou uma folha de papel do bolso e enunciou: -Caros amigos papagaios, trago aqui uma mensagem que minha ave me pediu que transmitisse a vocês. Tão logo, porém que ele chegou à parte em que o papagaio dizia que o coração de seus amigos era duro como pedra, todas as aves caíram mortas da árvore. Assustado, o homem partiu correndo de lá. Quando regressou ao lar, preparou-se para contar a triste notícia ao seu querido papagaio. -Meu amigo, aconteceu a coisa mais terrível do mundo. Estou tão triste e desconsolado! Fiz tudo como você me pediu, mas, quando cheguei ao trecho da mensagem em que você diz que seus amigos têm coração duro como pedra, eles caíram mortos bem na minha frente. Mal o homem terminou de falar, seu próprio papagaio caiu duro diante dele. O homem chorou muito, tirou o papagaio da gaiola e o levou até o jardim para enterrá-lo. Logo que foi deitado sobre a relva, porém, o papagaio abriu os olhos e saiu voando. Só então o homem percebeu que sua ave tinha recebido uma mensagem secreta. Na verdade, quando os papagaios da árvore se fingiram de mortos, estavam apenas mostrando como se deve fazer para escapar de uma gaiola. Agora ele também seria livre como seus irmãos. O Sr meu Rei,aprendeu que nem sempre o mensageiro precisa entender a mensagem,basta tranportá-la , e eu aprendi,Que liberdade não se pede,liberdade,se conquista. Quanto ao homem, em vez de se julgar traído pela ave, ficou feliz com a beleza e a alegria de seu vôo, sentindo muita leveza no próprio coração.

Imagem Retirada do Google

Saúde Mental


Rubem Alves (Escritor e Psicanalista)

“Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se. Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é uma coisa muito perigosa… Não, saúde mental elas não tinham… Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas. Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente “equipamento duro”, e a outra denomina-se software, “equipamento macio”. Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades “espirituais” – símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo “espirituais”, sendo que o programa mais importante é a linguagem. Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou… Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, “saúde mental” até o fim dos seus dias. Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música… Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato. Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram…” Rubens Alves, trecho de “Sobre o tempo e a eternidade” - Campinas: Ed. Papirus, 1996.


Imagens do Gloogle

segunda-feira, 21 de março de 2011

57HMMN - O Apanhador de Sonhos

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Imagem do Google
Bem cedinho, antes mesmo de todos acordarem, Zacarias
percebeu que aquele seria um sábado maravilhoso. Duas zebras e um
enorme cachorro peludo estavam bebendo água no chafariz de seu jardim.
Há meses Zacarias vinha pedindo aos pais um cachorro como aquele.
- Esperem por mim! – ele gritou, calçando o tênis.
As zebras saíram galopando pelo jardim assim que Zacarias abriu a
porta. O cachorro correu atrás delas. Quando Zacarias ia persegui-los,
notou outra coisa estranha. Na entrada de suas casa havia um caminhão
com os pára-lamas sujos.Um velho baixinho estava de pé em cima de um
caixote, olhando dentro do capô. Ele vestia um macacão com botões
brilhantes.
- Bom dia – disse Zacarias. – Quem é você?
- Leia o que está escrito na porta – sugeriu o velho, sorrindo.
- Apanhador de Sonhos. – Zacarias leu em voz alta e perguntou
espantado: - O que isso quer dizer?
O Apanhador de Sonhos tirou a cabeça de dentro do capô e sorriu. Ele
tinha bochechas rosadas e olhos tão azuis como as tardes de verão.
- Você já pensou no que acontece com seus sonhos? – ele perguntou a Zacarias.
Zacarias balançou a cabeça negativamente.
- Ah, não? Bem, eu venho de madrugada e recolho todos. É regulamento
da prefeitura – explicou o Apanhador de Sonhos.
- Uau! E o que acontece se você não recolhe os sonhos? – perguntou Zacarias.
- Isso seria um desastre! – exclamou o Apanhador de Sonhos. – Quanto
mais a manhã se aproxima, mais reais se tornam os sonhos. Uma vez
tocados pela luz do sol, eles permanecem para sempre. Imagine! A
cidade ficaria abarrotada de sonhos!
Naquele momento, dois piratas apareceram na rua.
- Eles eram do sonho de alguém? – perguntou Zacarias.
- Sim – respondeu o Apanhador de Sonhos, enquanto voltava a trabalhar no motor.
Zacarias o ouviu resmungar algo a respeito de anéis de pistão. – Seu
caminhão enguiçou? – ele perguntou.
- É. Não quer pegar e eu esqueci minha caixa de ferramentas o Apanhador de Sonhos parecia preocupado.
- Posso pegar algumas ferramentas em casa – ofereceu Zacarias. – O que
você precisa?
- Você pode me conseguir uma chave de vela, um verificador de bateria
e um jogo de chaves de boca?
Zacarias correu até a garagem e olhou para as ferramentas de seu pai.
Ele não sabia bem como se chamavam. O único jogo que viu foram uns
apetrechos de beisebol que pareciam muito usados. Ele encontrou o
verificador de bateria, mas não sabia qual das chaves era a certa.
Pegou uma porção delas para que o Apanhador de Sonhos pudesse
escolher.
Assim que Zacarias voltou ao caminhão, o cachorro peludo passou
correndo, perseguindo três coelhos.
- Ei, aquele cachorro era do meu sonho! – exclamou, surpreso,
Zacarias. – Eu queria tanto ter um cachorro como aquele.
Naquele momento havia sonhos por toda parte. O Apanhador de Sonhos
olhava à sua volta ansiosamente.
- A rua já deveria estar desocupada – ele se lamentava.
– Em breve o sol nascerá. Isso é muito sério.
Ele apanhou uma ferramenta das que Zacarias havia trazido, mas Zacarias achou que era pequena demais para um caminhão tão grande. Será que o Apanhador de Sonhos sabia o que estava fazendo?
- Posso ajuda-lo a consertar o caminhão? – perguntou Zacarias. – Uma
vez consertei o aspirador de pó da minha mãe, depois que ele aspirou
meus brinquedos.
O Apanhador de Sonhos sorriu.
- Caminhões e aspiradores são bem diferentes por dentro. Mas, talvez,você possa fazer um serviço especial para mim.
- O quê? – perguntou Zacarias.
- Talvez você possa colocar os sonhos para dentro do caminhão. Mas alguns sonhos, como o cachorro, podem ser difíceis de pegar – ele
falou com um brilho no olhar. – Você acha que consegue fazer isso?
- Oh, sim, eu consigo – respondeu Zacarias, todo empolgado.
Então Zacarias entrou em casa e escolheu cuidadosamente as coisas de que necessitaria para capturar os sonhos. Quando voltou, o sol já estava nascendo. Ele teria de ser rápido.
As cenouras e a corda funcionaram bem, e logo as zebras estavam dentro do caminhão. As araras gostaram do apito prateado.
- Este trabalho é moleza – disse Zacarias.
- Agora vou procurar o cachorro peludo.
Zacarias ouviu latidos no quintal do vizinho e foi investigar. O
cachorro estava saltando por entre anéis de fogo que um dragão soltava
pela boca.
Naquele instante um cavaleiro de armadura apareceu no quintal e, vendo
o dragão, puxou sua espada. O cachorro saiu correndo.
- Volte aqui! – gritou Zacarias, mas o cachorro continuou correndo. Quando o cavaleiro ergueu a espada, o dragão empalideceu de pavor.
Felizmente, naquele momento um cavalo enorme saiu trotando do canteiro de rosas.
O cavaleiro guardou sua espada e, todo feliz, abraçou o pescoço do cavalo.
- Puxa – sussurrou Zacarias -, essa foi por pouco.
Agora o quintal estava repleto de sonhos.
- Sigam-me todos! – ordenou Zacarias, mostrando o caminho.
Um a um, os sonhos foram subindo a rampa para dentro do caminhão. Zacarias suspirou aliviado. Só faltava o cachorro. Zacarias seguiu novamente pela rua, assobiando para chamá-lo. O
latido do cachorro parecia vir de dentro de uma moita.
- Saia já daí! – gritou Zacarias, afastando os galhos.
Mas o cachorro havia desaparecido.
Os raios do sol já estavam alcançando o topo das árvores. Zacarias decidiu que era melhor falar com o Apanhador de Sonhos.
- Falta muito para consertar o caminhão? – ele perguntou. – Nosso tempo está se esgotando.
- Eu sei, mas não consigo achar o defeito – respondeu o Apanhador de Sonhos, escolhendo outra ferramenta.
Zacarias sentou-se no pára-choque. – Sabe de uma coisa? – perguntou. –
Eu sempre durmo de olhos abertos para poder enxergar os meus sonhos
passando no escuro. Uma vez sonhei com rinocerontes.
- Eu me lembro – respondeu o Apanhador de Sonhos. – Era um rinoceronte
tão pesado que achei que as molas do meu caminhão não fossem agüentar.
Vamos ter de fazer um trato, Zacarias, nada de sonhos com
rinocerontes.
- Talvez – disse Zacarias, sorrindo.
Enquanto o Apanhador de Sonhos experimentava outras ferramentas,
Zacarias foi procurar o cachorro. Olhou nas garagens, nos jardins,embaixo dos caminhões e atrás das árvores. Então, ouviu um barulho.Correu em direção ao cachorro, mas ele saltou mais rápido. Zacarias
levantou-se do chão cuspindo terra. Não havia sinal do cachorro. “Talvez ele goste desta rua”, pensou Zacarias. “talvez ele não queira
ir embora.” Os raios de sol brilhavam em todas as janelas das casas. Zacarias foi dizer ao Apanhador de Sonhos que um dos sonhos ainda estava solto.
- Afaste-se! – avisou o Apanhador de Sonhos quando Zacarias apareceu.
– Vou tentar fazer o motor funcionar.
Zacarias afastou-se. Seguiu-se uma longa pausa. O cavalo relinchou. Então houve uma explosão, e o motor voltou a funcionar. E
bem a tempo, pois a luz do sol já inundava a rua.
- Viva! – gritou o Apanhador de Sonhos. – Obrigado. Não teria conseguido sem a sua ajuda!
- Não consigo encontrar o cachorro! – gritou Zacarias.
O Apanhador de Sonhos seu um assobio agudo e o cachorro peludo saltou de dentro das moitas. Ele era exatamente como Zacarias imaginava que um cachorro deveria ser, com longos bigodes e olhos da cor de chocolate. Quando o cachorro abanou o rabo, suas patas traseiras quase
saíram do chão.
- Você gostaria de ficar com esse cachorro? – perguntou o Apanhador de Sonhos.
- Eu adoraria! – respondeu Zacarias.
- Então ele é seu – disse o Apanhador de Sonhos. – Vais ser mais divertido que consertar o aspirador de pó.
Zacarias deu um berro. Quase não podia acreditar na sua sorte.
- Obrigado! – ele gritou.
O Apanhador de Sonhos soltou o freio e acenou. – E o nosso trato? – ele gritou. – Nada de rinocerontes, hem!
- Combinado! – respondeu Zacarias, rindo, emquanto o caminhão saiu
andando com suas molas arriadas.
Zacarias agarrou seu maravilhoso cachorro dos sonhos pela coleira e
juntos correram para casa.
- Vamos pular na cama de mamãe e papai – disse Zacarias. –Eles vão achar que ainda estão sonhando, quando abrirem os olhos e
virem você.
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