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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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sábado, 31 de outubro de 2009

Pacote de Biscoitos


“ Uma moça estava a espera de seu vôo, na sala de embarque de um grande aeroporto.

Como ela deveria esperar por muitas horas,

resolveu comprar um livro para passar o tempo. Comprou, também, um pacote de biscoitos.

Sentou-se numa poltrona, na sala Vip do aeroporto, para que pudesse

descansar e ler em paz.

Ao lado da poltrona onde estava o saco de biscoitos sentou-se um homem,

que abriu uma revista e começou a ler.

Quando ela pegou
o primeiro biscoito,
o homem também pegou um.
Sentiu-se indignada mas não disse nada.

Apenas pensou:

“Mas que cara de pau! Se eu estivesse
mais disposta
lhe daria um soco
no olho para que ele nunca mais esquecesse

desse

atrevimento!”

A cada biscoito que ela pegava, o homem também pegava um.

Aquilo foi deixando-a indignada, mas não conseguia reagir.

Quando restava apenas um biscoito, ela pensou:

“ah... o que esse abusado vai fazer agora?”

Então, o homem dividiu o último biscoito ao meio,

deixando a outra metade para ela.

Ah! Aquilo era demais!
Ela estava bufando de raiva!
Então, ela pegou seu livro,
pegou suas coisas e
se dirigiu ao
local de embarque.

Quando ela sentou-se confortavelmente numa poltrona,
já no interior do avião, olhou para dentro da bolsa para pegar seus óculos e,

para sua surpresa, seu pacote de biscoitos estava lá,
ainda intacto, fechadinho!

Ela sentiu tanta vergonha! Percebeu então que a errada era ela...

Ela havia se esquecido que seus biscoitos estavam guardados em sua bolsa.

O homem havia dividido os biscoitos dele sem se sentir indignado, nervoso ou revoltado.

Enquanto ela tinha ficado muito transtornada, pensando estar dividindo o biscoito dela
com ele.
E já não havia mais tempo para se explicar...
nem pedir desculpas!”


Existem 4 coisas que não se recuperam...


a pedra...depois de atirada!

a palavra.. depois de proferida!

A ocasião... depois de perdida!

O tempo...depois de passado!

* * *

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Abelha Chocolateira - 1H - MMN

---
Era uma vez uma abelha que não sabia fazer mel.
- Mas você é uma operária! - gritava a rainha - Tem que aprender.
Na colméia havia umas 50 mil abelhas e Anita era a única com esse problema. Ela se
esforçava muito, muito mesmo. Mas nada de mel...
Todos os dias, bem cedinho, saía atrás das flores de laranjeira, que ficavam nas
árvores espalhadas pelo pomar. Com sua língua comprida, ela lambia as flores e
levava seu néctar na boca. O corpinho miúdo ficava cheio de pólen, que ela carregava
e largava, de flor em flor, de árvore em árvore.
Anita fazia tudo direitinho. Chegava à colméia carregada de néctar para produzir o
mais gostoso e esperado mel e nada! Mas um dia ela chegou em casa e de sua língua
saiu algo muito escuro.
- Que mel mais espesso e marrom... - gritaram suas colegas operárias.
- Iac, que nojo! - esbravejaram os zangões.
Todo mundo sabe que os zangões se zangam à toa, mas aquela história estava ficando
feia demais. Em vez de mel, Anita estava produzindo algo doce, mas muito estranho.
- Ela deve ser expulsa da colméia! - gritavam os zangões.
- É horrorosa, um desgosto para a raça! - diziam outros ainda.
Todas as abelhas começaram a zumbir e a zombar da pobre Anita. A única que ficou
ao lado dela foi Beatriz, uma abelha mais velha e sábia.
Um belo dia, um menino viu aquele mel escuro e grosso sobre as plantas próximas da
colméia, que Anita tinha rejeitado de vergonha. Passou o dedo, experimentou e,
surpreso, disse:
- Que delícia. Esse é o mais saboroso chocolate que eu já provei na vida!
- Chocolate? Alguém disse chocolate? - indagou a rainha, que sabia que o chocolate
vinha de uma fruta, o cacau, e não de uma abelha.
Era mesmo um tipo de chocolate diferente, original, animal, feito pela abelha Anita,
ora essa, por que não...
Nesse momento, Anita, que ouvia tudo, esboçou um tímido sorriso. Beatriz, que
também estava ali, deu-lhe uma piscadela, indicando que tinha tido uma idéia
brilhante.
No dia seguinte, lá se foram Anita e Beatriz iniciar uma parceria incrível: fundaram
uma fábrica de pão de mel, juntando o talento das duas para produzir uma deliciosa
combinação de mel com chocolate.
Moral da história: as diferenças e riquezas pessoais, que existem em cada um de nós,
são singulares e devem ser respeitadas.
Fábula de Katia Canton*, ilustrada por ionit
*com idéia de João Roberto Monteiro da Silva, 7 anos

Leitura
Fábula: no final há sempre a moral da
história

Com diálogos curtos e texto econômico, a fábula é uma história de ficção, escrita
em verso ou em prosa. Uma de suas principais características é ter como personagens
animais e plantas e objetos animados, que ganham características humanas. Essa
forma alegórica de contar uma história apresenta as virtudes e os defeitos do mundo
dos homens e leva a interpretações sociais para ilustrar um ensinamento ou uma regra
de conduta. É por isso que toda fábula tem, no desfecho, uma moral.
Essa narrativa de natureza simbólica tem origem remota e incerta, pois se mescla à
necessidade do homem de criar e de contar histórias para transcender as atividades
cotidianas e recriar o mundo. Algumas fontes indicam que a fábula começou a ser
contada na Suméria, no século 8 a.C. Mas foi na Grécia Antiga, em meados do século 5
a.C., pelas mãos do escravo Esopo, que ela ganhou a fórmula atual: sintética,
alegórica, tendo animais demonstrando sentimentos e uma pitada de humor. Esopo
sempre terminava as fábulas explicando a moral e, assim, ensinava valores. Graças ao
francês Jean de la Fontaine (1621-1692), a fábula introduziu-se definitivamente na
literatura ocidental, dessa vez de forma menos sintética e mais contextualizada.
Ontem e hoje, com nuanças e autorias diferentes, as histórias se repetem.
A principal proposta do gênero é a fusão de dois elementos, o lúdico e o pedagógico. A
leitura de A abelha chocolateira, da escritora Katia Canton, vai ajudar seus alunos a
entendê-lo melhor. O texto pode ser explorado com turmas de 2a série de acordo com
o plano de aula elaborado pela pedagoga Wânia Menezes Picchi, professora da Escola
Viva, em São Paulo.
O que cada animal faz, na natureza e na ficção
Antes de apresentar a fábula à turma, provoque uma discussão sobre o
comportamento dos animais em seu ambiente. Divida os estudantes em grupos e
questione-os sobre as funções que cada bicho exerce no seu grupo. O que se espera
da formiga? Que ela transporte folhas, cascas e outros materiais para construir o
formigueiro. E da leoa? Que ela saia para caçar e traga alimentos para os machos e os
filhotes. Na colméia, a função da abelha operária é colher o néctar para fazer mel.
Registre no quadro-negro ou em um papel grande as hipóteses que a garotada
levanta.
Distribua o texto A abelha chocolateira para as crianças e peça para acompanharem a
leitura que você faz em voz alta. Ainda em grupos, elas vão marcar no texto palavras
ou trechos que indicam ações humanas atribuídas às abelhas - "gritava", "tem que
aprender", "fazia tudo direitinho", "esbravejaram", "indagou", "fundaram uma fábrica
de pão de mel" etc. - assim como características - "é horrorosa", "um desgosto para a
raça", "rejeitado de vergonha" etc.
Hora de retomar a primeira discussão sobre as funções de cada animal na natureza e
comparar o registro que está na lousa ou no papel com os trechos grifados no texto.
Provoque um diálogo sobre as conclusões do grupo e vá registrando as idéias: o que
vocês perceberam quando compararam as atitudes do animal em seu hábitat natural e
na história? Na natureza, a abelha age de um jeito e no texto ela se comporta mais
como as pessoas. Vá conduzindo a discussão de forma que os alunos percebam os
elementos estruturais da fábula. Peça para copiarem as conclusões no caderno.
O próximo passo é fazer a leitura de fábulas de autores diversos para os estudantes
perceberem sua estrutura. A repetição facilita a assimilação e a generalização das
características do gênero, permitindo que eles compreendam que aqui é a estrutura
que prevalece e não a autoria, como num romance.
Esses textos podem ser dramatizados. Divida a turma em quatro grupos e entregue a
cada um uma fábula diferente. Após a leitura, cada grupo vai bolar um roteiro e definir
quem será cada personagem. Como lição de casa, peça para treinarem suas falas - um
aluno deve ser o narrador. Reserve uma aula para um ensaio geral outra para a
apresentação dos grupos.
A importância de respeitar as diferenças
Retome o texto A abelha chocolateira para refletir sobre a moral da história. Em dupla,
os alunos devem discutir com o colega e escrever qual a função da abelha operária
dentro da colméia. Depois, individualmente, eles vão responder o que a autora quis
dizer com a frase "Anita fazia tudo direitinho". Como as outras abelhas operárias
reagiram ao comportamento de Anita? No final da fábula, Anita esboçou um tímido
sorriso. Pergunte: como ela estava se sentindo ao produzir um mel diferente? Alguma
vez você já esboçou um tímido sorriso por algum sentimento? Conte em detalhes como
foi.
A idéia é ver se o aluno se identifica com a moral da história. Lembre que a moral deve
ser trabalhada como conseqüência da situação que a fábula apresenta e nunca
isoladamente. Por fim, sugira que as crianças produzam uma narrativa em que
apareçam personagens com características bem distintas. O objetivo é incentivá-las a
trabalhar com as diferenças e as riquezas que existem em cada pessoa, a base da
moral da fábula de Katia Canton.
Bibliografia
Era Uma Vez Andersen, Katia Canton, 66 págs., Ed. DCL,
tel. (11) 3932-5222,
Fábulas, Monteiro Lobato, 60 págs., Ed. Brasiliense, tel. (11) 6198-1488,
Fábulas de Esopo, Russell Ash e Bernard Higton, 96 págs., Ed. Cia. das
Letrinhas, tel. 0800-142829,
Fábulas de La Fontaine, Jean de La Fontaine, 400 págs., Ed. Itatiaia, tel.
(31) 3212-4600,
Fábulas Italianas, Ítalo Calvino, 456 págs., Ed. Companhia das Letras, tel.
0800-142829.


* * *

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Alfaiatezinho Valente


O Alfaiatezinho Valente
Walt Disney

Era uma vez um alfaiatezinho que estava sentado no seu banco
a Coser quando OUViU uma mulher a gritar na rua:
- Doces de fruta para venda!
O alfaiate foi até à janela e gritou:
- Por aqui, minha boa mulher. Quero comprar os seus doces!
A mulher, carregada com o seu pesado cesto, subiu os três
andares até à casa do alfaiate e mostrou-lhe todos os frascos
de doces e geleias.
O alfaiate abriu todos os frascos e cheirou todos os
doces. Por fim, disse:
- Quero comprar três colheres deste aqui.
A mulher ficou desapontada por vender tão pouco, mas preparou
a quantidade pedida e foi-se embora.
O alfaiate espalhou o doce numa fatia de pão que colocou ao
seu lado na mesa.
"Comerei o pão quando terminar esta camisa", pensou ele.
O cheiro do doce cedo atraiu algumas moscas.
- Fora daqui! - gritou o alfaiatezinho. Mas as moscas não
compreendiam a sua linguagem e continuaram a voar à volta do
pão com doce. Finalmente, furioso, o alfaiate atirou-lhes com
um pedaço de tecido. Sete moscas caíram mortas no chão.
- fantástico - disse o alfaiate. - O mundo inteiro tem de
saber isto! - E, assim, fez um cinto em cabedal para eLe
mesmo, no que escreveu o seguinte: Sete DE UMA só VEZ!
Em seguida, depois de colocar o cinto, partiu à descoberta do
mundo.
Ao sair, agarrou num pedaço de queijo velho e guardou-o no
bolso, a fim de o comer quando tivesse fome. Já na rua,
encontrou um passarinho e, sem nenhuma razão especial, o meteu também no bolso.
Depois de sair da vila, encontrou um gigante com um aspecto
terrível.
- Bom dia! - disse o pequeno alfaiate. - Eu vou procurar
fortuna pelo mundo. Gostarias de te juntares a mim?
- Não sejas idiota, pequeno insignificante! - respondeu o
gigante com uma gargalhada.
- Repara no meu cinto, homem.
Quando o gigante leu a inscrição no cinto do alfaiatezinho,
pensou que este tinha morto sete homens. Contudo, não queria
acreditar que aquele homenzinho pudesse ser assim tão forte.
Então, decidiu pô-lo à prova.
O gigante agarrou numa pedra e apertou-a na mão até ficar em
água.
- Acho que não és capaz de fazer o mesmo! - disse ele.
O alfaiate tirou o queijo do bolso e esmagou-o até fazer
leite.
O gigante não ficou convencido. Então, agarrou noutra pedra e
atirou-a até uma distância enorme.
- Tenta fazer o mesmo! - disse ele.
- Nada mal - disse o alfaiatezinho - mas reparei que ela caiu
no chão.
Tirando o passarinho do bolso, lançou-o para o ar. O
passarinho, ao ver-se livre, voou até os dois homens o
perderem de vista.
- Bom, se és tão forte, ajuda-me a transportar aquela
árvore - disse o gigante.
- Com certeza - respondeu o alfaiatezinho -, pega tu no
tronco que eu carrego com a copa que, sem dúvida, é mais
pesada.
Como o gigante caminhava à frente, não podia ver que o
alfaiate ia confortavelmente sentado nos ramos da árvore.
Após algum tempo, o gigante exclamou:
- Estou esgotado. Tenho de repousar alguns instantes.
O alfaiatezinho saltou rapidamente para o chão e,
agarrando nos ramos, fingiu que os havia
transportado todo o trajeto.
- Acho que não és tão forte como disseste - disse
ele.
Continuaram a caminhar até que encontraram uma cerejeira
carregada de cerejas.
O gigante fez tombar a árvore para que o alfaiatezinho
pudesse colher algumas cerejas. Mas, quando este agarrou o
ramo mais alto, a árvore endireitou-se e projectou-o fazendo
voar por cima dela
- Não consegues sequer agarrar um pequeno ramo? - perguntou o
gigante.
- Claro que consigo - respondeu o alfaiate. - Saltei por cima
de propósito. E tu, vê lá se consegues?
O gigante tentou saltar, mas o seu pé ficou preso nos ramos.
Nesse preciso momento, o rei e a sua corte passaram por ali.
- Que se passa aqui? - quis saber o rei.
- Pouca coisa, Majestade. Apenas acabei de capturar este
gigante - respondeu o alfaiatezinho.
Como o gigante tinha causado grandes estragos nas
vizinhanças, o rei, como recompensa, deu um saco de ouro ao
alfaiatezinho.
Não tardou que nas vizinhanças todas as pessoas falassem do
alfaiatezinho.
E assim, o alfaiatezinho encontrou glória e fortuna e viveu
feliz para sempre.

* * *


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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A pipoca


Rubem Alves
A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar.
Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.
Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado.
Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária".
Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre
o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria.
Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef.
Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo
— porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas.
Provocam a minha capacidade de sonhar.
Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar.
Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas.
Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca.
E algo inesperado na minha mente aconteceu.
Minhas idéias começaram a estourar como pipoca.
Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar.
Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético.
Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros
e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela.
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca.
A pipoca tem sentido religioso?
Pois tem.Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam
o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida,
sem alegria, não é vida...).
Pão e vinho devem ser bebidos juntos.
Vida e alegria devem existir juntas.
Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella,
sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas.
Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho,
os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais.
Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve
a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo,
esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura.
O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar,
saltavam da panela com uma enorme barulheira.
Mas o extraordinário era o que acontecia com eles:
os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e
macias que até as crianças podiam comer.
O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária,
em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos,
especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé?
É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho da pipoca não é o que deve ser.
Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer,
pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa
— voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa.
Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos.
Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente,
perder um emprego, ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão
— sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso aos remédios.
Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui.
E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela,
lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer.
De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma,
ela não pode imaginar destino diferente.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!!
— e ela aparece como outra coisa, completamente diferente,
que ela mesma nunca havia sonhado.
É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte
e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca.
É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá.
Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja.
Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha,
que piruá é palavra inexistente.
Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp,
especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca.
Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás.
Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!"
Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.
Piruás são aquelas pessoas que,
por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
Ignoram o dito de Jesus:
"Quem preservar a sua vida perdê-la-á".
A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura.
O destino delas é triste.
Vão ficar duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca macia.
Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca,
no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada.
Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram,
são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...
"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar.
Pois foi precisamente isso que aconteceu".

O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.
Rubem Alves: tudo sobre sua vida e sua obra em "Biografias".
Este texto foi enviado por minha colega e comparsa
de ideologias e sentimentos :
* * *
Érica Rodrigues
* * *

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Palco da Vida

Cidade de Segóvia - Espanha

Você pode ter defeitos, viver ansioso e
ficar irritado algumas vezes,
mas não se esqueça de que sua vida é
a maior empresa do mundo.
E você pode evitar que ela vá à falência.
Há muitas pessoas que precisam,
admiram e torcem por você.
Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz
não é ter um céu sem tempestade,
caminhos sem acidentes,
trabalhos sem fadigas,
relacionamentos sem desilusões.
Ser feliz é encontrar força no perdão,
esperança nas batalhas,
segurança no palco do medo,
amor nos desencontros.
Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso,
mas refletir sobre a tristeza.
Não é apenas comemorar o sucesso,
mas aprender lições nos fracassos.
Não é apenas ter júbilo nos aplausos,
mas encontrar alegria no anonimato.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,
apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica,
mesmo que injusta.
Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples,
que mora dentro de cada um de nós.
É ter maturidade para falar "eu errei".
É ter ousadia para dizer "me perdoe".
É ter sensibilidade para expressar "eu preciso de você”.
É ter capacidade de dizer "eu te amo".
É ter humildade da receptividade.
Desejo que a vida se torne
um canteiro de oportunidades para você ser feliz...
E, quando você errar o caminho,
recomece,
pois assim você descobrirá que ser feliz
não é ter uma vida perfeita,
mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.
Usar as perdas para refinar a paciência.
Usar as falhas para lapidar o prazer.
Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.
Jamais desista de si mesmo.
Jamais desista das pessoas que você ama.
Jamais desista de ser feliz,
pois a vida é um espetáculo imperdível,
ainda que se apresentem dezenas de fatores
a demonstrarem o contrário.
Pedras no caminho?
Guardo todas...
Um dia vou construir um castelo!
* * *

Gestão por Resultados

Em uma cidade do interior, viviam duas mulheres que tinham o mesmo nome: Flávia. Uma era freira e a outra taxista.
Quis o destino que morressem no mesmo dia.
Quando chegaram ao céu, São Pedro esperava-as. - O teu nome? - Flávia - A freira?- Não, a taxista...
São Pedro consulta as suas notas e diz: - Bem, ganhastes o paraíso.
Leva esta túnica com fios de ouro. Pode Entrar.
A seguir... - O teu nome? - Flávia - A freira? - Sim, eu mesma.
- Bem, ganhastes o paraíso...
Leva esta túnica de linho. Pode entrar.
A religiosa diz: - Desculpe, mas deve haver engano.
Eu sou Flávia, a freira! - Sim, minha filha, e ganhastes o paraíso.
Leva esta túnica de linho... - Não pode ser!
Eu conheço a outra Flávia, Senhor.
Era taxista, vivia na minha cidade e era um desastre!
Subia as calçadas, batia com o carro todos os dias,
conduzia pessimamente e assustava as pessoas.
Nunca mudou, apesar das multas e repreensões policiais.
E quanto a mim, passei 65 anos pregando todos os domingos na paróquia.
Como é que ela recebe a túnica com fios de ouro e eu esta?
- Não há nenhum engano
- diz São Pedro.
É que, aqui no céu,
adotamos uma gestão mais profissional do que a de vocês lá na Terra...
- Não entendo! - Eu explico: Já ouviu falar de Gestão de Resultados?
Agora nos orientamos por objetivos, e observamos que nos últimos anos, cada vez que tu pregavas, as pessoas dormiam.
E cada vez que ela conduzia o táxi, as pessoas rezavam!
- Resultado é o que importa.
Isso é Gestão de Resultado!

* * *
História enviada pelo meu amigo Carlão Bathista.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A farinha mágica - parte V I - O escaravelho

0 soberano apressou-se a engolir o pó obtido esfarelando uma daquelas flores ao luar,
juntamente com um olho de urubu, em seguida se deitou.
Na manhã seguinte teve o prazer de verificar que o pescoço e os dedos dos pés e das
mãos tinham retomado o comprimento natural.
Então ordenou que a feiticeira fosse posta em liberdade. Mas quando a velha soube
que toda a sua farinnha fora destruída, desandou berrar com uma fúria, e não se
afastou do palácio real senão quando viu aparecer o violinista mágico.
A multidão de cortesãos, de domésticos e de pajens, seguiu-a com o olhar, rindo-se a
bandeiras despregadas. Mas de repente, todos emudeceram e começaram a recuar
assustados.
De um canto do pátio surgira o gigantesco escaravelho, cujas pernas tinham crescido
de maneira assustadora.
- Chama um soldado e ordena-lhe que mate aquele pobre animal! - exclamou a rainha,
voltando-se para um pajem.
Mas, como nenhum soldado ousasse aproximar-se daquele monstro, o violinista
começou a tocar uma melodia lânguida e doce que teve o efeito de encantar o
escaravelho.
Então os archeiros apontaram os seus arcos, e alguns minutos depois o animal caía ao
chão, ferido mortalmente.
Alguns cientistas providenciaram depois para fazê-lo embalsamar e expor no museu da
capital, onde ainda é conservado como uma surpreendente raridade.


* * *

A farinha mágica - parte V - a flor

O rei consentiu. Todos ficaram em silêncio. Os guardas soltaram a feiticeira, que
começou a estrilar como uma danada.
- Queres socorrer o nosso soberano? - perguntou-lhe o violinista -. Concedo-te um
minuto de tempo para me responderes.
- Respondo-te apenas que o pescoço do rei continuará a crescer ainda ! - urrou a
velha, agitando no ar a vassoura.
- Pois bem; então, dança! - exclamou o violinista.
E apoiando o violino ao ombro, começou a tocar.
Desde as primeiras notas, as pernas esqueléticas da megera começaram a agitar-se
convulsivamente, iniciando uma dança que, pouco a pouco, se foi tornando
vertiginosa.
Ao fim de um quarto de hora, o violinista parou de tocar e a feiticeira deixou-se cair ao
chão, extenuada.
- Queres socorrer o rei, maldita feiticeira? - perguntou de novo o tocador.
- Digo-te apenas que o pescoço do rei continuará a crescer! - sibilou a velha,
respirando com dificuldade.
Então o violinista recomeçou a tocar, primeiro devagar, depois com maior celeridade,
obrigando a feiticeira a dançar com uma fúria, com tal ímpeto que até os sapatos lhe
saíram dos pés.
- Dança, dança ! Maldita megera ! . . .
E a velha continuou a rodopiar como uma folha em um remoinho de vento, até que o
violinista lhe concedeu novo momento de trégua.
- Piedade! - gemeu então a feiticeira, deixando-se cair ao chão -. Sinto-me morrer!
- Dize-me de que maneira se pode restituir ao rei o seu aspecto normal! - gritou o
jovem, com voz ameaçadora -. Fala depressa, antes que te faça recomeçar a dançar.
Então a megera pôs-se de pé com grande dificuldade e, fitando o rei com os seus
olhinhos semelhantes aos de uma víbora, recomeçou a cantilena:
"No vale de Rawa cresce uma flor, vermelha nas pontas e no centro azul; ao luar deve
ser pulverizada e comida juntamente com um olho de urubu!"
0 rei soltou profundo suspiro de alívio.
- Jura-me que esse é o verdadeiro remédio! - disse ele a feiticeira.
- Juro-o.
- Pois bem; ficaria na cadeia até comprovarmos a eficácia do teu remédio.
Os guardas arrastaram a velha para uma cela das prisões reais e um mensageiro foi
enviado imediatamente em busca da preciosa flor.
- Terei de esperar pelo menos três dias! - suspirou o soberano -. 0 vale de Rawa fica
muito longe, e no entanto meu pescoço continuará a crescer!
De fato, ele não podia mais tocar na cabeça com as mãos e seus dedos cresciam
desmesuradamente.
A rainha pensou em oferecer uma xícara de chá ao seu augusto consorte, mas para
poder chegar-lha aos lábios foi obrigada a entrar no palácio e a dar-lha de uma das
janelas do primeiro andar.
- Por que não procuras uma maneira de torcer o pescoço? - disse-lhe ela, com voz
soluçante -. Tenta torcê-lo um pouco.
0 rei hesitou um momento e depois se esforçou tanto que conseguiu enrolar o pescoço,
dando-lhe assim o feitio de um saca-rolhas.
- Bravo! - exclamaram os cortesãos.
Daquela maneira ele podia ao menos estender-se na cama e passear pelo palácio sem
bater com a cabeça nas bandeiras das portas.
A pouca farinha que restava foi destruída, juntamente com os pastéis que o cozinheiro
preparará para o jantar.
No dia seguinte a tarde, o mensageiro estava de volta, trazendo um ramo de flores
vermelhas e azuis que colhera no vale de Rawa.
* * *


A farinha mágica - parte IV - O violonista


A megera estendeu de novo uma das suas mãos aduncas para o soberano e respondeu
cantarolando:
"O pescoço crescera, crescera sempre, até por cima das árvores poderes olhar; e os
dedos das tuas mãos crescerão até que prazia a Deus fazê-los parar; e os dos pés
também aumentarão até com os braços se poderem comparar."
- Que dizes? - bradou o monarca, horrorizado. Por única resposta a feiticeira indicou ao
rei os dedos dos seus pés, que já tinham arrombado os sapatos e cresciam a olhos
vistos.
Depois recomeçou a cantar: "Quem da farinha mágica comer por força terá de se
dar mal. . . Homem, criança, mulher ou animal, seus efeitos terá de sofrer!"
Em seguida acenou para o palácio, exclamando:
- Olhem para ali! Todos os olhares se dirigiram para a cozinha real, da qual vinha
saindo um estranho escaravelho, cujas pernas eram compridas como as de um cavalo,
enquanto o resto do corpo ficara normal.
- Comeu um pouco da farinha mágica - acrescentou a feiticeira, parando de cantar -.
Vejam que efeito extraordinário!
Ao verem aquilo, mulheres e crianças começaram a soltar gritos altíssimos, assustando
o pobre escaravelho, que procurou esconder-se em um canto.
- Agora vou levar o resto da farinha - prosseguiu a feiticeira, dirigindo-se para a
cozinha.
Mas o rei perdeu a paciência e intimou-a com voz terrível:
- Não te movas daí, maldita feiticeira!
Naquele momento a rainha apareceu no pátio, juntamente com a filha e com o
violinista mágico.
- Se a tua farinha provocou todos estes males, terás de remediá-los imediatamente,
do contrário te mandarei lançar as feras! - acrescentou o rei, fitando a feiticeira do
cimo do seu desconforme pescoço.
A velha deu uma gargalhada, pulou de lado, e depois respondeu:
- Eu nada sei... Não posso fazer coisa alguma !
- Como! Quererás recusar-te e remediar o mal que causaste? - bradou o soberano,
furibundo.
- Hi! Hi! Hi! - riu-se a feiticeira, recomeçando a
dançar -. Eu não posso fazer coisa alguma !
- Afoguem-na no lago! - disse a rainha.
- Vamos queimá-la viva! - sugeriu o médico da corte.
- Que seja enforcada! - berraram os criados.
- Joguemo-la dentro de água fervente! - gritaram os pajens.
- Silêncio! - ordenou o rei, erguendo a voz -. Vão chamar imediatamente o cozinheiro.
Alguém correu a chamar o cozinheiro, pondo-o a par de tudo o que acontecera.
O pobre diabo lançou-se de joelhos diante da feiticeira, exortando-a a socorrer o
soberano, mas a velha recuou alguns passos e botou a língua de fora, em sinal de
zombaria.
- Meu pai ! Meu pobre pai ! - gritou naquele momento a princesa -. O seu pescoço
continua a crescer!
O soberano atingira o paroxismo do desespero, e, chamando alguns guardas que
assistiam a cena, ordenou-lhes:
- Agarrem essa velha! - Em seguida, voltou-se para a tia do cozinheiro, acrescentando:
- Se não me deres imediatamente um remédio, far-te-ei arrastar pelos cabelos ao
longo das ruas da cidade e serás açoitada até morreres.
A megera respondeu ainda dessa vez com uma gargalhada rouca e zombeteira.
- Levem-na para a prisão! - ordenou então o desesperado soberano.
Naquele momento, o violinista mágico aproximou-se do rei e disse-lhe:
- Em vez de a mandardes matar, Majestade, peço-vos que a mandeis entregar a mim.

* * *

A farinha Mágica - Parte I I I - A Feiticeira


- Esperemos que os outros peixes não façam mal aos dois que joguei agora no lago! -
disso consigo a rainha.
Depois, aproximou-se de novo da margem e, olhando para as águas imóveis e
transparentes, viu os dois pobres peixes de ouro que estavam a um canto, olhando um
para o outro com ar assombrado.
- Que ira dizer o rei? - pensava a rainha, voltando sobre os seus passos .- Quando
souber disto, irá certamente ficar furioso!
Mas justamente naquele momento viu surgir diante dos olhos o marido, e um grito
agudíssimo escapou-se-lhe da boca.
- Que vejo?... Como foi que o teu pescoço se alongou dessa maneira? . . . Ah! . . . Ai
de nós! . . . Também os dois peixes de ouro ficaram compridos como serpentes!
- Que me importam os peixes? - gritou o rei .-O meu pescoço cresceu tanto assim?
- E continua a crescer! - balbuciou a rainha, soluçando.
- Chama depressa o médico da corte !- bradou o monarca, levantando os bravos para
segurar a cabeça e mantê-la firme, porque começara a balouçar de um lado para o
outro, como um girassol.
Atraídos por aqueles gritos, não tardaram a acudir todos os cortesãos, os servos e os
pajens. Mas quando se acharam na presença do soberano,não puderam conter
formidável risada.
Como teriam podido resistir,diante de espetáculo tão ridículo?
Chegado o médico, examinou atentamente o rei,apalpou-lhe todos os membros, mas
não soube diagnosticar.
O caso era realmente extraordinário.
De repente, no meio daquela confusa barafunda, avançou uma velha que brandia uma
vassoura na mão direita e tinha um aspecto verdadeiramente assustador, com os
cabelos avermelhados e alguns dentes verdes que lhe surgiam para fora dos beiços,
como as presas de um hipopótamo.
Todos os olhares se fixaram nela. Calçava uns velhos chinelos e dançava como uma
endemoninhada, gritando como uma possessa.
- É a tia do cozinheiro da corte! . . . É a feiticeira!- gritaram alguns empregados,
tomados de pavor.
- Por que veio ao castelo?
- Que quererá?
Finalmente um mordomo aproximou-se dela, com decisão, e perguntou-lhe
- Que queres aqui, velha feiticeira?
A megera parou de dançar e, indicando o rei com o dedo indicador da mão descarnada
e adunca, respondeu:
- Cheguei tarde demais!... O rei já comeu a farinha mágica ! . . .
A multidão calou-se de chofre. O soberano aproximou-se da velha e perguntou-lhe,
com voz trêmula de cólera:
- Que dizes? Explica-te, maldita bruxa!
Ela pousou um olhar zombeteiro no soberano e depois começou a cantar: "Eu dei ao
cozinheiro um saco de farinha, ele a levou para fazer pastéis.O presente destinava-se
a rainha, mas o rei quis comer logo os pastéis. . .".
- Continua! . . . Continua! gritaram todos.
"A farinha mágica que eu lhe dei tem estranhos poderes concentrados.olhem só como
está ficando o rei e também olhem para os peixinhos dourados!"
O rei não podia mais, porém soube dominar a sua cólera e disse, voltando-se para a
tia do cozinheiro:
- Tudo isso é verdade. Eu comi os pastéis preparados com a tua farinha e atirei
algumas migalhas aos meus peixes de ouro, que ficaram compridos como serpentes.
Entretanto o meu pescoço continua a crescer. Como se pode remediar tudo isso, velha
feiticeira?

* * *

A farinha mágica - Parte I I - Peixinhos

----


- Pois bem; se não queres que eu te mande cortar a cabeça, prepare-me logo mais um
cesto destes pastéis, que mandarás servir para meu jantar.
A rainha intrometeu-se de novo.
- Sê razoável, meu marido! Se comeres mais pastéis, vais ficar doente na certa...
Mas o rei glutão não lhe deu ouvidos e, depois de ter lançado um último olhar
eloqüente ao cozinheiro, voltou-lhe as costas e foi até ao terraço onde ficava situado o
aquário no qual viviam os seus peixinhos de ouro.
Como ainda tinha na mão um dos pastéis, esfarelou um pouco dele na água, e depois
entrou nos seus apartamentos. Sua filha, a princesa Flávia, achava-se em um dos
aposentos e, com os cotovelos apoiados no peitoril da janela, escutava um som de
mística que subia do parque.
O rei aproximou-se da janela e, olhando para baixo, avistou um estranho tocador de
violino, com os cabelos eriçados e revoltos pelo vento do outono.
Tocava com entusiasmo e estava cercado por uma dúzia de garotinhos que gritavam e
dançavam em volta dele, batendo palmas. - É o tocador mágico !
- gritou alegremente a princesa.
E, saindo do aposento, apressou-se a descer ao parque para escutar melhor a deliciosa
música do estranho violinista.
O rei contemplou por um instante o tocador, depois se retirou para o interior do
aposento, onde o seu olhar caiu sobre um espelho. Se bem que o seu rosto fizesse
lembrar a feia cara de uma rã, ele se considerava o soberano mais belo do mundo, e
de cada vez que contemplava a própria imagem, procurava ter nos lábios um sorriso
gracioso.
Mas nesse dia o sorriso não apareceu. Mal viu o rosto refletido no espelho, o rei deixou
escapar um grito de horror. Seu pescoço se alongara improvisamente, e assemelhavase
ao de um cisne.
Sua cabeça estava agora distanciada dos ombros pelo menos dois palmos.
- O que foi que me aconteceu? - balbuciou o pobre soberano, empalidecendo -. Que
brincadeira é esta? Estarei talvez sonhando?
E acreditando que se tratasse na realidade de um terrível pesadelo, deu forte beliscão
na própria coxa em seguida dirigiu de novo o olhar para o espelho.
Mas... ai dele! O pescoço crescera ainda mais!
- Que devo fazer?... É melhor correr imediatamente ao meu médico !
Dito isto, o rei dirigiu-se correndo para a porta, mas, como não levara em conta o
comprimento do pescoço, bateu com a cabeça na bandeira e sentiu uma dor aguda
que lhe fez ver estrelas.
No mesmo instante, a rainha saiu ao terraço para dar uma olhadela ao aquário, mas
quando se aproximou do tanque dos peixinhos de ouro, teve tamanho espanto que por
pouco não caiu na água.
Os dois bichinhos tinham ficado de um tamanho enorme e continuavam a crescer a
olhos vistos, até que ficaram tão grandes que saltaram para fora do tanque e caíram
no chão, abrindo a boca.
Com os olhos arregalados de espanto, a rainha não sabia o que pensar. Mas,
lembrando-se de repente de que, sem água, os peixes iriam morrer, agarrou-os pela
cauda e foi jogá-los no lago que havia perto do castelo.
- Assim poderão viver - murmurou -. Mas como terá acontecido um fenômeno tão
estranho? Sem dúvida deve tratar-se de alguma bruxaria !
Naquele lago viviam os peixes mais estranhos e maravilhosos da terra. Havia, por
exemplo, um magnífico esturjão que funcionava como barômetro, indicando as
mudanças de tempo com as barbatanas; outro peixe sabia dizer "bom dia" e "boa
noite"; um pequeno salmonete fazia graciosas cabriolas e cantava como um melro.
Eram, em suma, animais raríssimos,
e só o peixe-falador custara verdadeira fortuna.

--

* * *

A farinha Mágica - Parte I

Era uma vez um rei que se deixava levar com freqüência pela cólera, mesmo pelos
motivos mais insignificantes.
Um dia entrou com ar furioso na cozinha do palácio, gritando :
- Esta é única !
- Que aconteceu? - perguntou-lhe a rainha, voltando-se surpreendida para o marido e
parando de brigar com o cozinheiro.
- Que aconteceu? - prosseguiu o rei, com voz trêmula de raiva -. Imagine que passei
toda a manhã na caça, sem abater sequer um javali. Gastei todas as minhas flechas,
bati com a cabeça em uma árvore e voltei ao palácio com um miserável ouriço !
Um sorriso transpareceu no rosto rosado e gentil da rainha.
- Deverias aprender a apurar mais a mira - disse-lhe ela, em tom de doce censura.
Estas palavras fizeram aumentar até o máximo a cólera do rei, que se considerava o
melhor caçador de todo o pais, embora talvez não existisse outro mais desajeitado.
Parecia que até os animais sabiam disso, visto que passavam por junto dele sem
medo, dançando defronte do seu arco esticado e pouco se importando com as flechas
que sibilavam no ar, cravando-se nos troncos das árvores mas nunca na caça.
Mais de uma vez as lebres tinham zombado dele, e os javalis haviam passado bem por
perto da sua pessoa, roçando-o até, como para lhe fazer compreender que as suas
flechas de prata não lhes podiam fazer nenhum mal.
- Por que não te exercitas no pátio do palácio, com os nossos estúpidos criados? -
prosseguiu a rainha que, algumas vezes, se permitia aborrecer o seu augusto esposo.
Em vez de responder, o rei rangiu os dentes e arrancou da cabeça o barrete, jogandoo
no chão e pisando-o num ímpeto de raiva concentrada.
Quando se acalmou um pouco, a rainha dirigiu-lhe de novo a palavra, sempre
sorrindo:
- Vês que te irritaste inutilmente?
Aquilo era demais para o rei.
Um novo ímpeto de raiva invadiu o soberano; mas, descobrindo nesse momento
alguns pastéis enfileirados em cima da mesa, ficou admirado de que os mesmos não
lhe tivessem aguçado a gula, aplacando-lhe ao mesmo tempo a fúria.
- Magníficos e apetitosos, estes pastéis!. . .
E depois de engolir um, disse, fazendo estalar a língua de encontro ao céu da boca:
- Estão realmente deliciosos!
Em um abrir e fechar de olhos engoliu o rei mais de dúzia e meia. - Bons! . . .
Excelentes ! . . . Bravo, cozinheiro!... Estes pastéis te honram, - exclamou, falando ao
cozinheiro.
- Majestade! - respondeu o cozinheiro - a farinha com que preparei estes pastéis foime
dada por uma tia minha, feiticeira, que mora em cima da colina.
- É? E onde arranja ela esta farinha tão boa?
E sem aguardar resposta, fez desaparecer outros cincos pastéis, devorando-os com
avidez.
- Não comas mais - advertiu-o a rainha .- Poderiam fazes-te mal.
Por única resposta, o monarca voltou-se para o cozinheiro, dizendo-lhe em tom
ameaçador:
- Escuta, cozinheiro: gostarias que amanhã cedo eu te mandasse cortar a cabeça?
- Por piedade, Sir! Que dizeis? - exclamou o pobre homem, começando a tremer de
susto.

* * *

A FILHA DO REI EM BUSCA DE MARIDO


Era uma vez a filha de um Rei, que passava o dia inteiro sentada no terraço do
palácio, olhando para longe.
Ansiava por ver caminhar na direção do palácio algum mancebo, montando um
cavalo ajaezado de ouro, e com capacete de aço na cabeça e reluzente espada
à cintura.
Era porque ela queria casar, e não com qualquer um, mas com um moço
brilhante; porém, o cavaleiro do modo que ela queria, não aparecia.
E como passavam os dias e as noites sem conseguir o que almejava, a filha do
Rei foi entristecendo, e aos poucos diminuíram as suas exigências. Agora já se
contentaria com um cavaleiro menos brilhante, sem capacete de aço, sem
espada reluzente, e até sem arreios de ouro no cavalo.
Por fim, a filha do Rei já aceitaria como marido aquele que usasse até mesmo
um simples gorro de pano em vez de capacete de aço, punhal no cinto em vez
de espada, e que tivesse como cavalgadura um cavalinho trôpego e com
qualquer manta ordinária cobrindo a sela. Mas nem este aparecia.
Aumentou assim a tristeza da filha do Rei, chegando a tal ponto, que ela
desceu do terraço e partiu para o campo. No caminho encontrou-se com um
indivíduo que ia cantarolando uma alegre canção.
- Amigo, - disse ela - quererias ser Rei e meu marido?
- Muito obrigado! - respondeu ele, recusando-se com muita delicadeza. - Eu
seria obrigado a ficar todo o santo dia no palácio, com uma pesada coroa na
cabeça e um estorvante manto de arminho nas costas! E o que me interessa, é
andar livre e solto, pelo mundo afora.
Dizendo isto, recomeçou a sua divertida canção e apertou o passo. Pouco
depois a filha do Rei viu um alfaiate sentado à porta da sua oficina, e cosendo
com muito entusiasmo.
- Queres ser meu marido e depois Rei? - perguntou-lhe.
O alfaiate respondeu com voz trêmula, percorrendo todos os tons da escala, e
cantarolou:
"Lá, lá, lá. . . o Rei tem de ir à guerra, e não pode recusar;
lá, lá, lá. . . eu prefiro ainda ser costureiro e remendão!"
A filha do Rei saiu dali decepcionada, e pouco depois tropeçou com um velho e
simples frade mendicante.
- Irmão, - perguntou-lhe - quer ser meu marido e mais tarde Rei?
- Eu, Rei? - respondeu desconcertado o monge. - O que pensas de mim? Não
sou homem para impor tributos e impostos aos súditos, nem para tirar
dinheiro do próximo! Todos ficariam pobres e não teriam o que dar a este
velho frade.
O pobre não percebia que, se fosse Rei, já não seria mais monge mendicante!
Era tão simplório...
Pouco depois ela encontrou um limpador de chaminés.
- Casa comigo - pediu-lhe - e logo serás Rei.
- Não deves estar regulando bem da cabeça - disse sorrindo o limpador de
chaminés. - Primeiro eu teria de tomar um banho... e me horrorizo só de
pensar!
E a deixou, sem lhe dar tempo de insistir.
Diante de tantas negativas, a tristeza da filha do Rei aumentou, e ela já não
sabia o que fazer para arranjar marido, mas apesar disto queria encontrá-lo.
Foi ao curral, e ali viu um bezerro comendo a sua ração de cheiroso feno.
- Querido novilho, - disse a filha do Rei - tu tens mulher?
O animalzinho estava engasgado com um fiapo de feno, e para sacudi-lo movia
a cabeça para um lado e para outro.
A filha do Rei pensou que ele estivesse respondendo negativamente, e toda
satisfeita, lançou-lhe os braços ao pescoço e disse, sorrindo:
- Então casa comigo, querido novilho; te sentirás muito bem a meu lado, e
logo serás rei.
Então o bezerro deu um mugido que a filha do rei pensou que fosse por estar
com medo dela, e correndo se afastou dele.
Em outro curral viu um cordeiro branco como a neve, que achou muito
simpático. Porém, mal lhe fez a pergunta de sempre, o animal baliu: bé, bé,
bé. Ela entendeu: vai, vai, vai, e, horrorizada, abandonou o curral. Sentou-se
no pátio e chorou, ao ver que não conseguia um marido.
Viu então num canto um burrico roendo um cardo com tonta vontade, que
parecia não se preocupar com mais nenhuma coisa no mundo, a não ser com
aquele cardo espinhoso.
Apesar disto, a princesa quis tentar a sorte pela última vez. Aproximou-se dele
carinhosa e aduladora e lhe disse:
- Burrinho encantador, embora não saibas o que te convém, casa comigo.
Garanto que não te arrependerás! Eu te porei bem bonito e te estimarei muito.
Além disso, dentro de pouco tempo serás Rei!
O asno zurrou, abaixando e levantando a cabeça (como fazem sempre os
asnos quando zurram) e a filha do rei, achando que ele respondia que sim,
bateu palmas, entusiasmada, pegou o asno pelo cabresto e o introduziu no
palácio. Ali os criados o levaram e lhe puseram ricos trajes. A filha do Rei
depois o levou ao terraço, para que dali ele pudesse recrear a vista
contemplando os frondosos bosques, os floridos campos que havia em volta, e
o grande número de casas e cabanas. Disse-lhe ela:
- Olhe, querido, tudo isto é teu, pois agora tu és o Rei deste país! Poderás
comer as melhores iguarias e tomar os melhores vinhos; não precisarás mais
espetar tua linda boquinha com aqueles cardos espinhentos!
Mal ouviu a palavra "cardos", o asno levantou as orelhas e abriu a boca, de
prazer; mas a filho do Rei não compreendeu o significado dos gestos do
burrico, e lhe disse:
- Meu pobre querido, deves estar cansado, para bocejar assim... Vem, que eu
te deitarei numa cama branca como a neve, que mandei preparar para ti.
Dizendo isso, pegou o burrico pelo cabresto, levou-o ao seu quarto e o deitou
na macia cama, cobrindo-o carinhosamente com uma colcha de seda colorida.
Ali dormiu o burrico tranqüilamente o sono dos justos. Quando acordou, seus
olhos já encontraram a filha do Rei, que lhe perguntou delicadamente se ele
ainda estava cansado.
Por toda resposta o asno deu dois zurros, que ela interpretou como um "sim,
sim"...
- Muito bem, - respondeu a princesa - então, descansa um pouquinho mais.
Porém deves estar com fome. . . Queres que eu mande trazer-te a refeição
matinal, para a tomares na cama?
Mais dois zurros, e o filho do Rei mandou colocar ao pé da cama, onde estava
deitado o asno, uma grande mesa cheia de saborosos manjares: pão fresco,
toucinho cheiroso e presunto vermelhidão, café e geleia; disse ao asno que
comesse de tudo.
Não foi preciso insistir, porque ao ver tudo aquilo, as orelhas do quadrúpede
tinham ficado quase na vertical. Num abrir e fechar de olhos, ele devorou tudo.
- Com certeza queres mais, não é? - perguntou-lhe a filha do Rei, e o asno
zurrou novamente duas vezes.
Então a filha do Rei deu ordem para que levassem mais outra quantidade igual
de comida, mandando acrescentar ainda carne de galinha, ovos fritos e uma
porção de pastéis. O asno sentia-se no paraíso. E de cada vez que a filha do
Rei lhe perguntava se desejava alguma coisa mais, ele respondia com dois
zurros, que ela entendia por "sim, sim"... Assim foi engolindo, engolindo...
A filha do Rei e todo o pessoal de serviço se maravilhavam com o terrível
apetite do novo soberano. E o asno continuou devorando até altas horas da
noite, durante toda a noite e ainda nas primeiras horas da manhã; aí então se
ouviu um forte estalo, que por pouco não fez cair de costas a filha do Rei.
O empanturrado asno havia estourado!
A filha do Rei se aproximou e viu com assombro o asno naquelas tristes
condições, os ricos manjares que ele havia engolido espalhados pelo chão, e
chorou amargamente o triste fim do seu amado marido.
Sentou-se de novo no terraço, esperando o lindo cavaleiro com o qual havia
sonhado, e que nunca chegou. Assim, ela teve de ficar solteira. . .

Conselhos valiosos para quem pretende ser um contador de histórias

- Aprenda a ouvir histórias, em primeiro lugar.
- Prepare-se estudando, pesquisando, ensaiando.
- Procure conhecer melhor as crianças, como
funciona sua imaginação.
- Não tenha a pretensão de ensinar ou formar a
criança. Apenas conte uma história.
- Pesquise e monte seu repertório. Com o tempo suas
histórias ficarão mais fáceis de contar. E ganharão
vida, porque você estará acreditando nelas.
- Todos os recursos são válidos para chamar a
atenção: cantar, dançar, usar sotaque.
- É sempre bom usar objetos que estimulem a
imaginação: um lenço enrolado num cabo de guardachuva
pode ser uma linda rainha vestindo sua capa.
- Procure desenvolver sua sensibilidade. Se você
acreditar que o lenço é a capa da rainha, a criança
vai gostar mais do seu jeito de contar.
- Porém, procure sempre conhecer o universo das
crianças para as quais você vai contar a história. O
sucesso ou fracasso dos recursos que você vai usar
depende disso. O lenço enrolado no cabo de guardachuva
pode não significar nada para elas.
- Descubra a pontuação da história: os momentos de
respirar, de se surpreender. Assim, a história ficará
viva em você. E você se surpreenderá naquele
momento, junto com quem está ouvindo, mesmo que
tenha contado a mesma história mais de 100 vezes.
- Antes de começar a história, organize um espaço
sem muitos objetos, elementos e movimentos que
desviem a atenção de quem está ouvindo.
- No caso específico de hospitais, procure integrar à
sua história os elementos que não podem ser
eliminados (medicamentos, enfermeiros, camas).
- Faça reuniões com os demais contadores. Contem
histórias uns para os outros.
- Acredite no que está fazendo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Anel

Um aluno chegou a seu professor com um problema:
* Venho aqui, professor, porque me sinto tão pouca coisa, que não tenho forças para fazer nada. Dizem que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota.Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?
O professor sem olhá-lo, disse:
* Sinto muito meu jovem, mas agora não posso ajudá-lo, devo primeiro resolver meu próprio problema.
Talvez depois. E fazendo uma pausa falou:
* Se você me ajudar, eu posso resolver meu problema com mais rapidez e depois talvez possa ajudar você a resolver o seu.
* Claro, professor, gaguejou o jovem, mas se sentiu outra vez desvalorizado.
O professor tirou um anel que usava no dedo pequeno, deu ao garoto e disse:
* Monte no cavalo e vá ate o mercado.
Deve vender esse anel porque tenho que pagar uma dívida.
É preciso que obtenha pelo anel o máximo possível,
mas não aceite menos que uma moeda de ouro.
Vá e volte com a moeda o mais rápido possível. O jovem pegou o anel e partiu.
Mal chegou ao mercado começou a oferecer o anel aos mercadores.
Eles olhavam com algum interesse, até quando o jovem dizia o quanto pretendia pelo anel. Quando o jovem mencionava uma moeda de ouro, alguns riam,
outros saiam sem ao menos olhar para ele, mas só um velhinho
foi amável a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel. Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e
mais uma de cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos
que uma moeda de ouro e recusava as ofertas.
Depois de oferecer a jóia a todos que passavam pelo mercado e abatido pelo fracasso, montou no cavalo e voltou.
O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, assim livrando a preocupação de seu professor e assim podendo receber sua ajuda e conselhos. Entrou na casa e disse:
* Professor, sinto muito, mas é impossível de conseguir o que me pediu.
Talvez pudesse conseguir 2 ou 3 moedas de prata, mas não acho que se possa enganar ninguém sobre o valor do anel.
* Importante o que me disse meu jovem, contestou sorridente. Devemos saber primeiro o valor do anel. Volte a montar no cavalo e vá até o joalheiro. Quem melhor para saber o valor exato do anel?
Diga que quer vender o anel e pergunte quanto ele te dá por ele. Mas não importa o quanto ele te ofereça, não o venda. Volte aqui com meu anel. O jovem foi até o joalheiro e lhe deu o anel para examinar. O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou o anel e disse:
* Diga ao seu professor que, se ele quer vender agora, não posso dar mais que 58 moedas de ouro pelo anel. * 58 MOEDAS DE OURO! Exclamou o jovem.
* Sim, replicou o joalheiro, eu sei que com tempo eu poderia oferecer cerca de 70 moedas,mas se a venda é urgente...
O jovem correu emocionado a casa do professor para contar o que correu. * Senta, disse o professor e depois de ouvir tudo que o jovem lhe contou, disse:
* Você é como esse anel, uma jóia valiosa e única.
Só pode ser avaliada por um especialista.
Pensava que qualquer um podia descobrir o seu verdadeiro valor? E dizendo isso voltou a colocar o anel no dedo.
Todos somos como esta jóia.
Valiosos e únicos e andamos por todos os mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem.
Repense o seu valor!

Palavras ao Vento

Certa vez, um homem tanto falou que seu vizinho era ladrão,
que o vizinho acabou sendo preso.
Algum tempo depois, descobriram que era inocente.
O rapaz foi solto, após muito sofrimento e humilhação,
e processou o homem. No tribunal, o homem disse ao juiz:
- Comentários não causam tanto mal...
E o juiz respondeu:
- Escreva os comentários que você fez sobre ele num papel.
Depois pique o papel e jogue os pedaços pelo caminho de casa.
Amanhã, volte para ouvir a sentença!
O homem obedeceu e voltou no dia seguinte, quando o juiz disse:
- Antes da sentença, terá que catar os pedaços de papel que espalhou ontem!
Não posso fazer isso, meritíssimo!
Respondeu o homem:
O vento deve tê-los espalhado por tudo quanto é lugar e já não sei onde estão!
Ao que o juiz respondeu:
Da mesma maneira, um simples comentário que pode destruir a honra de um homem,
espalha-se a ponto de não podermos mais consertar o mal causado.
- Se não se pode falar bem de uma pessoa,
é melhor que não se diga nada!
Sejamos senhores de nossa língua,
para não sermos escravos de nossas palavras'.
Nunca se esqueça:
Quem ama não vê defeitos...
Quem odeia não vê qualidades...
E quem é amigo vê as duas coisas!!!

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