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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A História do Rato Saltador


A História do Rato Saltador























Tradição Nativo-Americana

Era uma vez um rato. Era um rato ocupado, buscando em toda parte... e olhando. Ele era ocupado como são todos os ratos, ocupado com coisas de ratos. Mas um dia, ele ouviu um som singular. Levantou a cabeça, esforçando-se por enxergar... e surpreendeu-se. Um dia correu até um rato seu conhecido e perguntou-lhe:

- Você está ouvindo um rugido em suas orelhas, meu irmão?

- Não, não. – Respondeu o outro rato sem tirar o seu nariz atarefado do solo. – Não ouço nada. Agora estou ocupado. Fale comigo depois.

Ele fez a outro rato a mesma pergunta e o rato olhou-o com estranheza.

- Está louco? Que som? – perguntou, escorregando para um buraco em um choupo caído.

O pequeno rato meneou seus bigodes e ocupou-se novamente, decidido a esquecer o assunto. Mas ele ouviu novamente o rugido. Era um rugido fraco, muito fraco, mais estava lá! Um dia ele decidiu investigar o som, um pouquinho só. Deixando os outros ratos atarefados, afastou-se um pouco e voltou a ouvir. Lá estava! Ele estava escutando quando, de repente, alguém disse “olá”.

- Olá, irmãozinho – disse a voz, e o rato quase saltou de sua pele. Arqueou as costas e o rabo, preparando-se para fugir em disparada.

- Olá – repetiu a voz – Sou eu, o irmão guaxinim. – E era mesmo! – O que você está fazendo aqui sozinho, irmãozinho? – perguntou o guaxinim.

O rato corou, e levou o nariz quase até o solo.

- Ouvi um ruído em minhas orelhas e resolvi investigar – respondeu timidamente.

Um ruído em suas orelhas? – repetiu o guaxinim – O que está ouvindo, irmãozinho, é o rio.

- O rio... O que é um rio?

- Venha comigo e eu lhe mostrarei o rio - disse o guaxinim.

O ratinho estava morrendo de medo, mas estava decidido a descobrir de uma vez por todas o que era aquele ruído. “Posso voltar ao meu trabalho”, ele pensou, “depois de resolver essa coisa, e talvez essa coisa me ajude em meu trabalho de análise e coleta. E meus irmãos todos disseram que não era nada. Vou mostrar a eles. Vou pedir ao guaxinim para retornar comigo, e eu terei a prova.”.

- Está bem, guaxinim, meu irmão – disse o rato. – Leve-me até o rio. Vou com você.

O ratinho acompanhou o guaxinim. Seu coraçãozinho batia forte em seu peito. O guaxinim conduziu-o por caminhos desconhecidos, e o ratinho sentiu o cheiro de muitas coisas que passaram por seu caminho. Muitas vezes teve tanto medo que quase retrocedeu. Finalmente, chegaram ao rio! Era enorme e surpreendente, profundo e cristalino em alguns pontos, e sombrio em outros. O ratinho não conseguia ver o outro lado, porque ele era grande demais. Trovejava, cantava, bradava e retumbava em sua trajetória...

- É poderoso – exclamou o ratinho, sem encontrar palavras.

- É uma coisa grandiosa – redarguiu o guaxinim -, mas quero apresentá-lo a um amigo.

Em uma parte mais rasa havia uma reentrância... Sobre ela, estava um sapo...

- Olá, irmãozinho – disse o sapo – Bem vindo ao rio.

- Agora tenho de ir embora – interrompeu o guaxinim –, mas não tenha medo, irmãozinho, o sapo tomará conta de você. – E o guaxinim foi embora...

O ratinho aproximou-se da água e olho para dentro dela. Viu um rato assustado refletido na superfície.

- Quem é você? – o ratinho perguntou ao reflexo. – Não tem medo de entrar neste rio?

- Não – respondeu o sapo – Não tenho medo. Recebi o dom, desde o nascimento, de viver dentro e fora do rio. Quando chega o inverno e congela essa feitiçaria, não posso ser visto. Mas enquanto voa o inseto, eu estou aqui. Para visitar-me, é preciso vir quando o mundo está verde. Eu, meu irmão, sou o defensor da água.

- Impressionante – exclamou o ratinho, novamente sem encontrar palavras.

- Gostaria de ter algum poder da feitiçaria – perguntou o sapo.
Poder da feitiçaria? – repetiu o ratinho. – Sim, sim! Se for possível.
- Então, abaixe-se o mais que puder, depois salte o mais alto que for capaz. Você terá sua feitiçaria – disse o sapo.

O ratinho obedeceu as instruções. Abaixou-se o máximo e saltou. Neste momento, seus olhos viram as Montanhas Sagradas.

O ratinho mal podia acreditar em seus olhos. Mas lá estavam elas! Então caiu de novo na terra, e no rio!

O ratinho ficou assustado e voltou atabalhoadamente para a margem. Estava molhado, e quase mortalmente apavorado.

- Você me enganou! – o ratinho gritou para o sapo.

- Espere – disse o sapo – Você não se machucou. Não deixe que o medo ou a raiva o ceguem. O que você viu?

- Eu - gaguejou o rato -, eu, eu via as Montanhas Sagradas!

- E você tem um novo nome! – disse o sapo. – É Rato Saltador.

- Obrigado. Obrigado. – Rato Saltador agradeceu. – Quero voltar para o meu povo e contar a eles o que me aconteceu.

- Vá, então – disse o sapo – Voltar para o seu povo... Guarde o som do rio feiticeiro no fundo da sua cabeça...

Rato Saltador retornou ao mundo dos ratos. Mas encontrou a decepção. Ninguém queria ouvi-lo. E como ele estava molhado e não podia explicar por quê, já que não havia chovido, muitos dos outros ratos ficaram com medo dele. Achavam que ele tinha sido cuspido por outro animal que tentara comê-lo. E todos sabiam que se ele não tinha servido de alimento para alguém que o quisera, então ele devia ser um veneno também para eles.

Rato Saltador voltou a viver com seu povo, mas não conseguia esquecer a visão das Montanhas Sagradas.

A lembrança ardia na mente e no coração do Rato Saltador, e um dia ele foi até a fronteira do... local dos ratos e olhou para o pradaria. Viu as águias do céu, que estava cheio de pontos, cada ponto uma águia e tomou a decisão de ir até as Montanhas Sagradas. Reuniu toda a sua coragem e correu o mais rápido que pode até a pradaria. Seu coraçãozinho retumbava de excitação e medo.

Correu até chegar ao canteiro do sábio. Estava descansando e tentando controlar sua respiração quando viu um velho rato. O canteiro do sábio... era um asilo para ratos. Havia ali muitas sementes e material de ninho, além de muitas coisas com as quais se ocupar.

- Olá – disse o velho rato. – Seja bem vindo.

Rato Saltador ficou surpreso. Aquele lugar... e aquele rato...

- Você é realmente um grande rato. - disse Rato Saltador com todo o respeito. - Este lugar é realmente maravilhoso. E as águias não podem vê-lo aqui - acrescentou.

- Sim – disse o velho rato –, e daqui se pode ver todos os animais da pradaria: o búfalo, o antílope, o coelho, e o coiote. E possível ver todos eles daqui e saber seus nomes.

- Isto é maravilhoso, disse Rato Saltador. – Você também pode ver o rio e as Grandes Montanhas?

- Sim e não. – o velho rato falou com convicção - Sei que existe o Grande Rio, mas temo que as Grandes Montanhas sejam apenas um mito. Esqueça seu desejo de vê-las e fique aqui comigo. Aqui temos tudo que você quiser e é um bom lugar para viver.

"Como ele pode dizer uma coisa dessas?", pensou Rato Saltador. "A feitiçaria das Montanhas Sagradas não pode ser esquecida.”

- Muito obrigado pela refeição que você compartilhou comigo, velho rato, e também por oferecer-me seu grande lar – disse Rato Saltador –, mas devo buscar as Montanhas Sagradas.

- Você é um rato tolo por sair daqui. Há perigo na pradaria!... Veja todos aqueles pontos! São águias, e elas vão pegá-lo!

Foi difícil para Rato Saltador partir, mas ele reuniu sua determinação e voltou a correr. O terreno era acidentado... ele podia sentir as sombras dos pontos às suas costas enquanto corria. Todos aqueles pontos!

Ele estava investigando seu novo ambiente quando ouviu uma respiração muito pesada. Rapidamente Investigou o som e descobriu sua origem. Era um grande tufo de pelos com chifres pretos. Era um grande búfalo. Rato Saltador mal podia acreditar na grandiosidade do ser que viu deitado à sua frente. Era tão grande que Rato Saltador poderia entrar em um de seus grandes chifres. "Que ser um magnífico", pensou Rato Saltador, e aproximou-se mais.

- Olá, meu irmão – disse o búfalo. – Obrigado por visitar-me.

- Olá, Grande Ser... Por que você está deitado aqui?

- Estou doente e estou morrendo – disse o búfalo. – E o rio feiticeiro me disse que apenas o olho de um rato pode curar-me. Mas, irmãozinho, não existe um rato.

Rato Saltador ficou chocado. "Um de meus olhos!", ele pensou, "um dos meus minúsculos olhos." Voltou correndo para o canteiro de cerejeiras. Mas a respiração era cada vez mais difícil e lenta.

“Ele vai morrer”, pensou Rato Saltador. “Se eu não lhe der meu olho. Ele é um ser grandioso demais para que o ‘deixem morrer’.”

Voltou ao lugar onde o búfalo estava deitado.

- Eu sou um rato – disse a voz trêmula. – E você meu irmão, é um Grande Ser. Não posso deixá-lo morrer. Tenho dois olhos, você pode ficar com um deles.

Tão logo disse essa palavras, o olho de Rato Saltador saiu de sua cabeça e o búfalo ficou bom. O búfalo pôs-se de pé de um salto, sacudindo todo o universo do Rato Saltador.

- Obrigado, meu irmãozinho – disse o búfalo. – Sei que você está buscando as Montanhas Sagradas e sei de sua visita ao rio. Você me deu a vida para que eu possa dá-la ao povo. Eu serei seu irmão para sempre. Corra sob meu ventre e eu o levarei diretamente ao sopé das Montanhas Sagradas, e você não precisará ter medo dos pontos. As águias não poderão vê-lo enquanto estiver correndo debaixo de mim. Só verão o lombo de um búfalo.

O ratinho correu por debaixo do búfalo, seguro e protegido contra os pontos, mas com um único olho e assustado. Os grandes cascos do búfalo sacudiam todo seu mundo a cada passada. Finalmente eles chegaram a um local, e o búfalo parou.

- Aqui devo deixá-lo, irmãozinho – disse o búfalo...

Rato Saltador imediatamente pôs-se a investigar o novo ambiente. Ali havia mais coisas que nos outros lugares. Coisas mais ativas e uma abundância de sementes e outras coisas que os ratos apreciam... De súbito ele encontrou um lobo cinzento, que estava sentado ali fazendo absolutamente nada.

- Olá, irmão Lobo – disse o Rato Saltador.

Os olhos do lobo tornaram-se atentos e brilharam.

- Lobo! Lobo! Sim, isto é o que sou, eu sou um lobo! – mas sua mente voltou a ficar confusa, e novamente ele se sentou em silêncio, completamente esquecido de quem era. A cada vez que Rato Saltador lembrava quem ele era, o lobo mostrava-se entusiasmado com a notícia, mas logo voltava a esquecer.

- Que grande ser – pensou Rato Saltador -, mas ele não tem memória.

Rato Saltador foi até o centro do novo local e manteve silêncio. Ouviu por um longo tempo as batidas de seu coração. Então, repentinamente, tomou uma decisão. Voltou correndo para onde o lobo estava sentado e falou.

- Irmão lobo! – disse Rato Saltador...

- Lobo! Lobo! – exclamou o lobo...

- Por favor, irmão lobo – disse Rato Saltador – Por favor, ouça-me. Eu sei o que pode curá-lo. E um de meus olhos. E quero dá-lo a você. Você é um ser maior que eu. Eu sou apenas um rato. Por favor, tome-o.

Mal o rato disse essas palavras, seu olho saiu de sua cabeça e o lobo ficou bom.

Lágrimas caiam pelas bochechas do lobo, mas seu irmãozinho não podia vê-las, pois agora estava cego.

Você é um grande irmão – disse o lobo. – Agora tenho minha memória, mas agora você está cego. Eu sou o guia para as Montanhas Sagradas. Eu o levarei até lá. Lá há um grande lago medicinal. O lago mais belo do mundo. O mundo inteiro está refletido ali. As pessoas, as habitações das pessoas, e todos os seres das pradarias e dos céus.

- Por favor, leve-me até lá – disse o Rato Saltador.

O lobo conduziu-o através dos pinheiros até o lago medicinal. Rato Saltador bebeu a água do lago. O lobo descreveu-lhe toda a beleza do lugar.

- Agora tenho de partir – disse o lobo –, pois preciso retornar para que possa guiar os outros, mas permanecerei com você sempre que desejar.

- Obrigado, meu irmão – disse Rato Saltador – Mas embora eu esteja assustado por estar sozinho, sei que você deve partir para mostrar aos outros o caminho para este lugar.

Rato Saltador sentou-se, tremendo de medo. Não adiantava correr, pois ele estava cego, embora soubesse que uma águia o encontraria ali. Sentiu uma sombra às suas costas e ouviu o ruído que fazem as águias. Preparou-se para o choque. E a águia atacou! Rato Saltador adormeceu.

Quando despertou, a surpresa de estar vivo foi grande, mas agora ele estava enxergando!

Tudo estava indistinto, mas as cores eram belas.

- Posso ver! Posso ver! – disse Rato Saltador.

Uma forma enevoada aproximou-se de Rato Saltador. Ele tentou enxergar melhor, mas continuou vendo uma mancha apenas. Olá irmão, disse uma voz. – Quer um pouco de feitiçaria?

Feitiçaria para mim? – perguntou Rato Saltador. – Sim! Sim!

- Então, abaixe-se o mais que puder – disse a voz – e salte o mais alto que conseguir.

Rato Saltador obedeceu às instruções. Agachou-se o máximo e saltou! O vento colheu-o e levou-o para o alto.

- Não tenha medo – disse a voz. – Agarre-se ao vento e tenha confiança!

Rato Saltador obedeceu. Fechou os olhos e agarrou-se ao vento, que o levou mais e mais para o alto. Rato Saltador abriu os olhos e eles estavam límpidos, e quanto mais alto ele subia, mas límpidos tornavam-se seus olhos. Rato Saltador viu seu velho amigo sobre um canteiro de lírios no belo lago medicinal. Era o sapo.

- Você tem um novo nome – disse o sapo – Você é uma Águia!

Versão publicada em A Sabedoria do Mundo, de Philip Novak
Encontrei a história publicada no blog "a pupa", e quem postou identifica-se apenas como "Rato Saltador". Segundo suas palavras, é uma história tradicional dos índios Sioux.

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