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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Eu Já Sabia




Arte de Wilfredo Lam

Teremos sempre gente nos julgando.
Os vizinhos, os parentes, os colegas de trabalho, da academia e do inglês, quem nos tirou no amigo-secreto, quem nos viu no cinema.
Chamados para opinar, vão demonstrar uma intimidade surpreendente.
Não é paranoia, todos só estão esperando que eu faça algo realmente grande para confessar que me conheciam.
E pode ser agradável e pode ser nocivo, não importa, as maçãs podres partilham a cesta com as frutas sadias, o joio e o trigo são irmãos gêmeos, a maldade e a bondade são mais parecidas entre si do que o amor e a amizade.
Diante de uma atitude boa, dirão que já sabiam que eu era sinônimo de retidão.
Diante de um fato ruim, também dirão que já sabiam que eu não prestava.
O sonho da maioria é desfraldar a faixa: “Eu já sabia, Galvão”.
O fofoqueiro deseja ser profeta, pretende dar a notícia em primeira mão seja lá qual for e como for.
Os conhecidos guardam meus antecedentes negativos e positivos numa pastinha na área de trabalho do Windows, prontos para a impressão.
Ao me tornar santo, não será complicado encontrar testemunhas dos meus milagres. Citarão coisas inacreditáveis. Quando pulei o muro de três metros da Escola Imperatriz Leopoldina aos 11 anos e fui suspenso, avisarão que nada me aconteceu porque meu corpo é protegido pelo Nosso Senhor Jesus e que a direção me castigava injustamente e não compreendia meu dom.
Ao me tornar louco, comentarão que o mesmo pulo já dava provas da possessão do demônio, que meu apelido Chuck indicava a liderança negativa na turma, que merecia expulsão da diretora.
De um lado da moeda, a santidade. De outro, a ausência de sanidade. Em ambos, a mesma efígie.
Somos influenciáveis. Há a ânsia em definir o próximo para nos poupar da encrenca de assumir as próprias ambiguidades.
Em caso de me converter num herói salvando criança de atropelamento, a opinião pública tecerá elogios de minha conduta familiar. Lembrará do amor incondicional aos filhos.
Na hipótese de atropelar alguém, o público me enxergará como uma máquina mortífera desde a infância. Desde quando andava de triciclo e amassava formigas. Puxarão os pontos da carteira de habilitação, e o zelador do meu prédio, Carlos, descreverá minhas dificuldades para tirar o carro de ré.
Teremos sempre gente nos condenando. Viver é uma execução sumária.
Certo que, um dia, termino no paredão.
Pelo menos, vou pintando os muros de meu fim. Verdes de esperança.
Mas não faltará amigo supondo que isso é ironia.

http://carpinejar.blogspot.com/

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