A megera estendeu de novo uma das suas mãos aduncas para o soberano e respondeu
cantarolando:
"O pescoço crescera, crescera sempre, até por cima das árvores poderes olhar; e os
dedos das tuas mãos crescerão até que prazia a Deus fazê-los parar; e os dos pés
também aumentarão até com os braços se poderem comparar."
- Que dizes? - bradou o monarca, horrorizado. Por única resposta a feiticeira indicou ao
rei os dedos dos seus pés, que já tinham arrombado os sapatos e cresciam a olhos
vistos.
Depois recomeçou a cantar: "Quem da farinha mágica comer por força terá de se
dar mal. . . Homem, criança, mulher ou animal, seus efeitos terá de sofrer!"
Em seguida acenou para o palácio, exclamando:
- Olhem para ali! Todos os olhares se dirigiram para a cozinha real, da qual vinha
saindo um estranho escaravelho, cujas pernas eram compridas como as de um cavalo,
enquanto o resto do corpo ficara normal.
- Comeu um pouco da farinha mágica - acrescentou a feiticeira, parando de cantar -.
Vejam que efeito extraordinário!
Ao verem aquilo, mulheres e crianças começaram a soltar gritos altíssimos, assustando
o pobre escaravelho, que procurou esconder-se em um canto.
- Agora vou levar o resto da farinha - prosseguiu a feiticeira, dirigindo-se para a
cozinha.
Mas o rei perdeu a paciência e intimou-a com voz terrível:
- Não te movas daí, maldita feiticeira!
Naquele momento a rainha apareceu no pátio, juntamente com a filha e com o
violinista mágico.
- Se a tua farinha provocou todos estes males, terás de remediá-los imediatamente,
do contrário te mandarei lançar as feras! - acrescentou o rei, fitando a feiticeira do
cimo do seu desconforme pescoço.
A velha deu uma gargalhada, pulou de lado, e depois respondeu:
- Eu nada sei... Não posso fazer coisa alguma !
- Como! Quererás recusar-te e remediar o mal que causaste? - bradou o soberano,
furibundo.
- Hi! Hi! Hi! - riu-se a feiticeira, recomeçando a
dançar -. Eu não posso fazer coisa alguma !
- Afoguem-na no lago! - disse a rainha.
- Vamos queimá-la viva! - sugeriu o médico da corte.
- Que seja enforcada! - berraram os criados.
- Joguemo-la dentro de água fervente! - gritaram os pajens.
- Silêncio! - ordenou o rei, erguendo a voz -. Vão chamar imediatamente o cozinheiro.
Alguém correu a chamar o cozinheiro, pondo-o a par de tudo o que acontecera.
O pobre diabo lançou-se de joelhos diante da feiticeira, exortando-a a socorrer o
soberano, mas a velha recuou alguns passos e botou a língua de fora, em sinal de
zombaria.
- Meu pai ! Meu pobre pai ! - gritou naquele momento a princesa -. O seu pescoço
continua a crescer!
O soberano atingira o paroxismo do desespero, e, chamando alguns guardas que
assistiam a cena, ordenou-lhes:
- Agarrem essa velha! - Em seguida, voltou-se para a tia do cozinheiro, acrescentando:
- Se não me deres imediatamente um remédio, far-te-ei arrastar pelos cabelos ao
longo das ruas da cidade e serás açoitada até morreres.
A megera respondeu ainda dessa vez com uma gargalhada rouca e zombeteira.
- Levem-na para a prisão! - ordenou então o desesperado soberano.
Naquele momento, o violinista mágico aproximou-se do rei e disse-lhe:
- Em vez de a mandardes matar, Majestade, peço-vos que a mandeis entregar a mim.
* * *
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