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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A farinha mágica - Parte I I - Peixinhos

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- Pois bem; se não queres que eu te mande cortar a cabeça, prepare-me logo mais um
cesto destes pastéis, que mandarás servir para meu jantar.
A rainha intrometeu-se de novo.
- Sê razoável, meu marido! Se comeres mais pastéis, vais ficar doente na certa...
Mas o rei glutão não lhe deu ouvidos e, depois de ter lançado um último olhar
eloqüente ao cozinheiro, voltou-lhe as costas e foi até ao terraço onde ficava situado o
aquário no qual viviam os seus peixinhos de ouro.
Como ainda tinha na mão um dos pastéis, esfarelou um pouco dele na água, e depois
entrou nos seus apartamentos. Sua filha, a princesa Flávia, achava-se em um dos
aposentos e, com os cotovelos apoiados no peitoril da janela, escutava um som de
mística que subia do parque.
O rei aproximou-se da janela e, olhando para baixo, avistou um estranho tocador de
violino, com os cabelos eriçados e revoltos pelo vento do outono.
Tocava com entusiasmo e estava cercado por uma dúzia de garotinhos que gritavam e
dançavam em volta dele, batendo palmas. - É o tocador mágico !
- gritou alegremente a princesa.
E, saindo do aposento, apressou-se a descer ao parque para escutar melhor a deliciosa
música do estranho violinista.
O rei contemplou por um instante o tocador, depois se retirou para o interior do
aposento, onde o seu olhar caiu sobre um espelho. Se bem que o seu rosto fizesse
lembrar a feia cara de uma rã, ele se considerava o soberano mais belo do mundo, e
de cada vez que contemplava a própria imagem, procurava ter nos lábios um sorriso
gracioso.
Mas nesse dia o sorriso não apareceu. Mal viu o rosto refletido no espelho, o rei deixou
escapar um grito de horror. Seu pescoço se alongara improvisamente, e assemelhavase
ao de um cisne.
Sua cabeça estava agora distanciada dos ombros pelo menos dois palmos.
- O que foi que me aconteceu? - balbuciou o pobre soberano, empalidecendo -. Que
brincadeira é esta? Estarei talvez sonhando?
E acreditando que se tratasse na realidade de um terrível pesadelo, deu forte beliscão
na própria coxa em seguida dirigiu de novo o olhar para o espelho.
Mas... ai dele! O pescoço crescera ainda mais!
- Que devo fazer?... É melhor correr imediatamente ao meu médico !
Dito isto, o rei dirigiu-se correndo para a porta, mas, como não levara em conta o
comprimento do pescoço, bateu com a cabeça na bandeira e sentiu uma dor aguda
que lhe fez ver estrelas.
No mesmo instante, a rainha saiu ao terraço para dar uma olhadela ao aquário, mas
quando se aproximou do tanque dos peixinhos de ouro, teve tamanho espanto que por
pouco não caiu na água.
Os dois bichinhos tinham ficado de um tamanho enorme e continuavam a crescer a
olhos vistos, até que ficaram tão grandes que saltaram para fora do tanque e caíram
no chão, abrindo a boca.
Com os olhos arregalados de espanto, a rainha não sabia o que pensar. Mas,
lembrando-se de repente de que, sem água, os peixes iriam morrer, agarrou-os pela
cauda e foi jogá-los no lago que havia perto do castelo.
- Assim poderão viver - murmurou -. Mas como terá acontecido um fenômeno tão
estranho? Sem dúvida deve tratar-se de alguma bruxaria !
Naquele lago viviam os peixes mais estranhos e maravilhosos da terra. Havia, por
exemplo, um magnífico esturjão que funcionava como barômetro, indicando as
mudanças de tempo com as barbatanas; outro peixe sabia dizer "bom dia" e "boa
noite"; um pequeno salmonete fazia graciosas cabriolas e cantava como um melro.
Eram, em suma, animais raríssimos,
e só o peixe-falador custara verdadeira fortuna.

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