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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A farinha mágica - parte V - a flor

O rei consentiu. Todos ficaram em silêncio. Os guardas soltaram a feiticeira, que
começou a estrilar como uma danada.
- Queres socorrer o nosso soberano? - perguntou-lhe o violinista -. Concedo-te um
minuto de tempo para me responderes.
- Respondo-te apenas que o pescoço do rei continuará a crescer ainda ! - urrou a
velha, agitando no ar a vassoura.
- Pois bem; então, dança! - exclamou o violinista.
E apoiando o violino ao ombro, começou a tocar.
Desde as primeiras notas, as pernas esqueléticas da megera começaram a agitar-se
convulsivamente, iniciando uma dança que, pouco a pouco, se foi tornando
vertiginosa.
Ao fim de um quarto de hora, o violinista parou de tocar e a feiticeira deixou-se cair ao
chão, extenuada.
- Queres socorrer o rei, maldita feiticeira? - perguntou de novo o tocador.
- Digo-te apenas que o pescoço do rei continuará a crescer! - sibilou a velha,
respirando com dificuldade.
Então o violinista recomeçou a tocar, primeiro devagar, depois com maior celeridade,
obrigando a feiticeira a dançar com uma fúria, com tal ímpeto que até os sapatos lhe
saíram dos pés.
- Dança, dança ! Maldita megera ! . . .
E a velha continuou a rodopiar como uma folha em um remoinho de vento, até que o
violinista lhe concedeu novo momento de trégua.
- Piedade! - gemeu então a feiticeira, deixando-se cair ao chão -. Sinto-me morrer!
- Dize-me de que maneira se pode restituir ao rei o seu aspecto normal! - gritou o
jovem, com voz ameaçadora -. Fala depressa, antes que te faça recomeçar a dançar.
Então a megera pôs-se de pé com grande dificuldade e, fitando o rei com os seus
olhinhos semelhantes aos de uma víbora, recomeçou a cantilena:
"No vale de Rawa cresce uma flor, vermelha nas pontas e no centro azul; ao luar deve
ser pulverizada e comida juntamente com um olho de urubu!"
0 rei soltou profundo suspiro de alívio.
- Jura-me que esse é o verdadeiro remédio! - disse ele a feiticeira.
- Juro-o.
- Pois bem; ficaria na cadeia até comprovarmos a eficácia do teu remédio.
Os guardas arrastaram a velha para uma cela das prisões reais e um mensageiro foi
enviado imediatamente em busca da preciosa flor.
- Terei de esperar pelo menos três dias! - suspirou o soberano -. 0 vale de Rawa fica
muito longe, e no entanto meu pescoço continuará a crescer!
De fato, ele não podia mais tocar na cabeça com as mãos e seus dedos cresciam
desmesuradamente.
A rainha pensou em oferecer uma xícara de chá ao seu augusto consorte, mas para
poder chegar-lha aos lábios foi obrigada a entrar no palácio e a dar-lha de uma das
janelas do primeiro andar.
- Por que não procuras uma maneira de torcer o pescoço? - disse-lhe ela, com voz
soluçante -. Tenta torcê-lo um pouco.
0 rei hesitou um momento e depois se esforçou tanto que conseguiu enrolar o pescoço,
dando-lhe assim o feitio de um saca-rolhas.
- Bravo! - exclamaram os cortesãos.
Daquela maneira ele podia ao menos estender-se na cama e passear pelo palácio sem
bater com a cabeça nas bandeiras das portas.
A pouca farinha que restava foi destruída, juntamente com os pastéis que o cozinheiro
preparará para o jantar.
No dia seguinte a tarde, o mensageiro estava de volta, trazendo um ramo de flores
vermelhas e azuis que colhera no vale de Rawa.
* * *


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