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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Aprendiz de Mago

Um homem de grandes artes tinha na sua companhia um sobrinho, que lhe guardava a casa
quando precisava sair. De uma vez deu-lhe duas chaves, e disse:
– Estas chaves são daquelas duas portas; não mas abras por cousa nenhuma do mundo,
senão morres.
O rapaz, assim que se viu só, não se lembrou mais da ameaça e abriu uma das portas. Apenas
viu um campo escuro e um lobo que vinha correndo para arremeter contra ele. Fechou a porta
a toda a pressa passado de medo. Daí a pouco chegou o Mago:
– Desgraçado! para que me abriste aquela porta, tendo-te avisado que perderias a vida?
O rapaz tais choros fez que o Mago lhe perdoou. De outra vez saiu o tio e fez-lhe a mesma
recomendação. Não ia muito longe, quando o sobrinho deu volta à chave da outra porta, e
apenas viu uma campina com um cavalo branco a pastar. Nisto lembrou-se da ameaça do tio e
já o sentindo subir pela escada, começou a gritar:
– Ai que agora é que estou perdido!
O cavalo branco falou-lhe:
– Apanha desse chão um ramo, uma pedra e um punhado de areia, e monta já quanto antes
em mim.
Palavras não eram ditas, o Mago abriu a porta da casa: o rapaz salta para cima do cavalo
branco e grita:
– Foge! que aí chega o meu tio para me matar.
O cavalo branco correu pelos ares fora; mas indo lá muito longe, o rapaz torna a gritar:
– Corre! que meu tio já me apanha para me matar.
O cavalo branco correu mais, e quando o Mago estava quase a apanhá-los, disse para o rapaz:
– Deita fora o ramo.
Fez-se logo ali uma floresta muito fechada, e, enquanto o Mago abria caminho por ela,
puseram-se muito longe. Ainda o rapaz tornou outra vez a gritar:
– Corre! que já aí está meu tio, que me vai matar.
Disse o cavalo branco:
– Bota fora a pedra.
Logo ali se levantou uma grande serra cheia de penedias, que o Mago teve de subir, enquanto
eles avançavam caminho. Mais adiante, grita o rapaz:
– Corre, que meu tio agarra-nos.
– Pois atira ao vento o punhado de areia, disse-lhe o cavalo branco.
Apareceu logo ali um mar sem fim, que o Mago não pôde atravessar. Foram dar a uma terra
onde se estavam fazendo muitos prantos. O cavalo branco ali largou o rapaz e disse-lhe que
quando se visse em grandes trabalhos por ele chamasse mas que nunca dissesse como viera
ter ali. O rapaz foi andando e perguntou por quem eram aqueles grandes prantos.
– É porque a filha do rei foi roubada por um gigante que vive em uma ilha aonde ninguém pode
chegar.
– Pois eu sou capaz de ir lá.
Foram dizê-lo ao rei; o rei obrigou-o com pena de morte a cumprir o que dissera. O rapaz
valeu-se do cavalo branco, e conseguiu ir à ilha trazendo de lá a princesa, porque apanhara o
gigante dormindo.
A princesa assim que chegou ao palácio não parava de chorar. Perguntou-lhe o rei:
– Porque choras tanto, minha filha?
– Choro porque perdi o meu anel que me tinha dado a fada minha madrinha e, enquanto o não
tornar a achar, estou sujeita a ser roubada outra vez ou ficar para sempre encantada.
O rei mandou lançar o pregão em como dava a mão da princesa a quem achasse o anel que
ela tinha perdido. O rapaz chamou o cavalo branco, que lhe trouxe do fundo do mar o anel,
mas o rei não lhe queria já dar a mão da princesa; porém ela é que declarou que casaria com o
jovem para que dissessem sempre: Palavra de rei não torna atrás.

Conto Tradicional Português,
Teófilo Braga,
1883

* * *

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