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HOJE ALGUMAS FRASES ME DEFINEM: Clarice Lispector "Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda. E diz: "Era só um conto de fadas"... Mas no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida." Antoine de Saint-Exupéry. Contando Histórias e restaurando Almas."Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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domingo, 31 de outubro de 2010

Como Um Velho Perdeu Sua Verruga

Imagem retirada do Bing
Há muito tempo atrás um velhinho morava com sua esposa perto de uma floresta. Na juventude ele fora um belo rapaz, mas à medida que envelhecia, uma feia verruga cresceu-lhe na face, ficando, com a idade, cada vez maior. Durante anos, recorreu a médicos e magos e experimentou pós e poções, mas nada adiantou. Por fim resignou-se com a verruga e tentava mesmo brincar a respeito.
Um dia, o velho precisou de lenha para o fogo; foi então para as montanhas e cortou algumas achas. Fazia um dia fresco de outono e ele se sentia tão feliz que nem viu as nuvens se adensarem. Quando caíram as primeiras gotas, correu a procurar abrigo. Encontrou uma árvore oca e lá se escondeu, no exacto momento em que irrompeu a tempestade. Trovões sacudiam as montanhas e raios cintilavam ao seu redor; ele, porém, estava seco e seguro. Depois de muitas horas, a tempestade amainou e o velho saiu de seu refúgio. Ouviu vozes à distância e pensou que seus vizinhos tinham vindo à sua procura. Mas quando viu do que se tratava, pasmou horrorizado - uma horda de gnomos e demônios se aproximava!
Mais que depressa, volou para seu esconderijo na árvore, tremendo de medo. Os demônios chegaram e um dos gnomos - o mais horrendo de todos e obviamente o chefe - dirigiu-se ao seu bando, dizendo com um gesto:
- Vamos dar uma festa aqui.
Então o rei-demônio acomodou-se de costas para o velho, na frente da árvore oca. O pobre homem quase desmaiou de medo.
Os demónios organizaram rapidamente um piquenique e começaram a cantar. O velho observava atónito - nunca vira nada semelhante. Mas quando os demónios começaram a dançar, não pôde conter o riso. Eram desajeitados e deselegantes, e todos pareciam ridículos, dando coices para todo lado e caindo. Finalmente, o rei dos demónios com um gesto ordenou aos dançarinos que parassem.
- Vocês são ruins demais! - disse, se lastimando. - Não existe ninguém aqui que saiba dançar bem?
Ora, o velho adorava dançar e sabia dançar muito bem. - Eu poderia ensinar-lhe uns passos - pensou consigo mesmo, mas não ousava revelar sua presença, temendo que os demónios o matassem. O rei-demónio tornou a perguntar se alguém sabia dançar e o velho continuava dividido entre seu amor pela dança e seu medo dos demónios. O rei-demónio perguntou uma terceira vez e o velho mandou seus receios às favas.
Saiu da árvore e curvou-se perante o chefe dos demónios.
- Eu sei dançar, meu senhor - disse e começou a fazê-lo.
Os demónios ficaram escandalizados por terem um homem em seu meio, mas, bem logo, admiraram a arte do velho. Começaram a marcar o ritmo com seus cascos, acompanhando a música e alguns se juntaram ao velho. Por sua vez, o velho sabia que sua vida dependia de ele dançar bem, de forma que pôs toda sua alma e todo seu coração em seus movimentos e divertiu-se, realmente. Quando parou, o rei-demónio aplaudiu e convidou-o a sentar-se ao seu lado, oferecendo-lhe um copo de vinho.
- Você precisa voltar amanhã para dançar para nós - o rei-demónio disse.
- Gostaria muito de vir - respondeu o velho.
Um dos conselheiros do rei admoestou-o. - Não se ode confiar nos homens. Precisamos ficar com algo que nos dê certeza de que ele vai voltar. - Infelizmente, o velho nada trazia de valor consigo.
- Bem, então - o rei-demónio disse - vou ficar com isto como penhor - e, estedendo a mão, agarrou a verruga do velho e arrancou-a com a facilidade de quem arranca um pessêgo maduro.
- Trate de voltar amanhã - ordenou, e todos os gnomos desapareceram.
O velho mal podia acreditar no que acontecera. Passou a mão pelo rosto e percebeu o quão suave - e simétrico! - estava. Ficou tão feliz, que foi para casa pulando, cantando - e dançando - durante todo o trajecto. A esposa, ao vê-lo livre da verruga, mostrou-se eufórica e ambos celebravam sua boa sorte.
Ora, o velho tinha um vizinho malvado e vaidoso que também tinha uma verruga e que nunca se cansara de procurar um tratamento para ela. Quando soube da celebração, foi espiar e ficou perplexo ao ver que a verruga do velho havia sumido. este homem invejosos imediatamente perguntou o que acontecera e o velho lhe contou a história dos demónios. O vizinho, então, insistiu para ir vê-los, no dia seguinte, em lugar do velho.
No dia seguinte, pois, o vizinho vaidoso rumou para as montanhas e encontrou a árvore oca, exactamente como o velho lhe dissera. E, sem sombra de dúvida, ao anoitecer, o bando de demónios apareceu.
- Onde está o velho que ia dançar para nós? - o rei-demônio perguntou. O mau vizinho rastejou para fora da árvore, tremendo de pavor. - Aqui estou! - disse e começou a dançar. Ele, no entanto, nunca havia aprendido a dançar; considerava a dança aviltante à sua dignidade de forma que apenas pulava de um lado para outro, agitando os braços. Ele achava que os demónios não iriam notar a diferença, porém o rei ficou ofendido.
- Mas que coisa horrível! - o rei-gnomo exclamou. - Você não está dançando como ontem! - O rei não atinara que estava tratando com outra pessoa porque, a seu ver, todos os humanos eram iguais. - Não dá para aguentar! - o rei-demónio gritou, afinal. Vasculhou o bolo e encontrou a verruga.
- Olhe, devolvo-lhe o penhor.
Dizendo isso, atirou a verruga no homem vaidoso e esta grudou-lhe no rosto e não havia dúvida: tinha duas verrugas, uma em cada face! Esgueirou-se para dentro de casa bem mais tarde da noite, e ninguém viu sua cara nunca mais porque, desse dia em diante, passou a usar um chapéu de abas largas, bem enfiado na cabeça.
Quanto ao velho que perdeu sua verruga, ele viveu ainda muito tempo e dançava quando se sentia feliz. O que, na verdade, acontecia quase sempre!

Lenda do Japão
* * *
Resumo
Esse artigo tem como objetivo mostrar a importância do arquétipo da criança divina a partir das noções básicas de psicologia analítica de C.G.Jung, e encontrando na arteterapia um meio facilitador da conexão com esse arquétipo.
Liga Diniz

“... Sem a criança, não existiria deus-pai nem deus-mãe. Sem o filho, obviamente, não existiria o ser humano. Por isso, porque o gênero humano significa existência, vida, e essa vida se inicia bem pequena, com mãozinhas e pezinhos minúsculos, e porque essa vida estabelece a união com Deus, e Deus criou a vida - à sua imagem, por isso a criança é divina.”
Angela Waiblinger

O Arquétipo da Criança Divina
C.G.Jung, psiquiatra Suíço, criador da psicologia analítica, considerava a existência de três níveis da psique humana: a consciência, o inconsciente pessoal, o inconsciente coletivo.
A consciência aglomera pensamentos, palavras, lembranças, identidade, sensações, gestos, sentimentos, imagens, fantasias... Refere-se ao estar desperto e atento, observando e registrando tudo o que acontece no mundo que nos rodeia e dentro de nós..Tem como função primordial situar o sujeito no tempo e no espaço, realizando todas as orientações e adaptações necessárias para possibilitar a relação que se estabelece na troca do sujeito com o meio físico e humano. Para que qualquer conteúdo psíquico torne-se consciente terá necessariamente de relacionar-se com o ego, que é o centro da consciência.
Inconsciente pessoal corresponde a “... uma camada mais ou menos superficial” (Jung, OC V.XVIII/2, 1159) de conteúdos, cujo marco divisório com o consciente não é tão rígido. Contém todos os conteúdos esquecidos ou reprimidos pelo indivíduo, deliberada ou involuntariamente. Estes se referem às experiências vividas, ligadas às disposições internas do indivíduo. Encontram-se também no inconsciente pessoal as percepções e impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente. Nele encontram-se os complexos “grupos de representações carregados de forte potencial afetivo, incompatíveis com a atitude consciente” (Jung, Vida e Obra; Nise Silveira – pág.73)
Inconsciente coletivo seria a camada mais profunda da psique constituída pelos materiais que foram herdados da humanidade. No Inconsciente Coletivo encontram-se os arquétipos, formas estruturantes herdadas que é comum a todo ser humano embora se manifestem de maneira diferente de acordo com as culturas. Como exemplos de arquétipos são: o Herói, a Grande Mãe, do Pai, da Criança Divina, do Órfão, dos Irmãos Inimigos, entre tantos outros.
O arquétipo da criança divina diz respeito a nossa criatividade, espontaneidade, essência, é o futuro em potencial. ”Um aspecto fundamental do motivo da criança é o seu caráter de futuro.” (Jung, OC V. IX/I, 278)
“... a “ criança” é dotada de um poder superior e que se impõe inesperadamente, apesar de todos os perigos.A “ criança” nasce do útero do inconsciente,gerada no fundamento da natureza viva. É uma personificação de forças vitais, que vão além do alcance limitado da nossa consciência, dos nossos caminhos e possibilidades,desconhecidos pela consciência e sua unilateralidade, e uma inteireza que abrange as profundidades da natureza. Ela representa o mais forte e inelutável impulso do ser, isto é, o impulso de realizar-se a si mesmo”. (Jung, OC V. IX/I 289)

RESGATANDO A CRIANÇA INTERIOR
"Fui convidada para dar uma palestra e workshop numa universidade com a finalidade de falar sobre a criança interior e a importância de ativar a criatividade e espontaneidade no individuo e na sociedade.
A nossa saúde e a nossa criatividade esta relacionada com a forma com que lidamos com a nossa criança, não só a criança concreta, como a criança interior.
A criança é criativa. Resgatar a criança é resgatar o núcleo de saúde do indivíduo, e esse resgate de saúde do indivíduo tem repercussão na coletividade.
Utilizei-me então do conto “O velho que perdeu a verruga” como instrumento de trabalho para ilustrar esse assunto, pois este retrata esse resgate da criança interior. "
Ligia Diniz

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